Na primeira parte deste conjunto de artigos vimos como os
fabricantes, tanto nacionais como estrangeiros, podem começar a entrar no
mercado da Casa Inteligente conforme
as características que o país apresenta. Vimos que os principais segredos são especialização
e internacionalização, agregados a qualidade e preço compatível com o poder de
consumo do brasileiro.
Assim, começamos a ter uma oferta latente de produtos que
precisam chegar até os consumidores. Pelas características destes produtos, há
dois principais canais de venda: através de varejistas de grande porte e
através de vendas online.
Neste segundo artigo vamos examinar quais as condições de
contorno que atrairiam grandes varejistas a tomar a iniciativa para se destacar
no comércio de produtos para a Casa
Inteligente.
Um varejista precisa ter um conjunto de produtos de qualidade
e preço adequado, um público já doutrinado e pronto para o consumo e algum tipo
de vantagem mercadológica que o diferencie de outros varejistas.
Consideremos que já exista um ecossistema de produtos disponível
no mercado nacional. Este ecossistema é capitaneado por um equipamento central
que funciona como gateway para periféricos inteligentes, faz a conexão com a
Nuvem, onde reside a inteligência maior, e é responsável pela maior parte de
comunicação com o morador da Casa
Inteligente.
Aqui podemos ter os já conhecidos Alexa e Google Now,
instalados em equipamentos dos próprios gigantes ou embarcados em produtos de
terceiros (fabricante nacionais ou não).
Este fabricante deve ser responsável pelo aculturamento do
consumidor para os benefícios e vantagens de se ter uma Casa Inteligente. Deve investir em marketing, em preços atraentes e
deve incentivar os fabricantes de equipamentos compatíveis a entrarem no
mercado em conjunto com ele. Em suma, este fabricante deve investir em criar este
ecossistema completo, onde o equipamento central e a prestação de serviços
inteligentes na Nuvem são seus elementos de faturamento e renda.
Feito isso, o fabricante deve desenvolver seus canais de
venda, que serão online e através de uma rede varejista.
E o que este fabricante espera do varejista? Ele quer um
varejista que tenha um público de bom poder aquisitivo, jovem e interessado em
tecnologia. Ele quer um varejista presente nas principais cidades do país. Ele quer
um varejista que tenha uma ótima logística de distribuição, que consiga
entregar os produtos rapidamente e com custo de frete baixo.
Mas, principalmente, ele quer um varejista que tenha foco em
tecnologia, cujos clientes busquem nele apoio na escolha e no bom uso dos
equipamentos sendo comprados.
Temos este varejista disponível no Brasil hoje? Acredito que
não. Mas temos alguns que podem “evoluir” seu perfil de forma a atender tanto o
fabricante quanto o consumidor de forma mais adequada e contributiva. E temos também
a oportunidade de novas empresas serem criadas já dentro deste perfil, mirando
o futuro e buscando se posicionar como referência para o mercado multimilionário
da Casa Inteligente.
Os modelos de varejistas que existem no mercado americano podem
nos dar boas ideias, mas a simples importação destes modelos não deve surtir o
mesmo efeito; há sempre a necessidade de adaptação de praticamente todos os
aspectos do negócio.
O modelo brasileiro deve levar muito em conta a necessidade
de instruir o comprador, tanto nas características dos produtos quanto nos
benefícios que cada produto traz, bem como os benefícios globais de uma Casa Inteligente. E isto não deve ser
feito em um ambiente de supermercado.
O varejista deve se espelhar mais nos moldes usados para a
venda de equipamentos de áudio e vídeo, com ambientes próprios para
demonstração e também ambientes para conversas demoradas e quase que didáticas com
o cliente sobre o que está envolvido na Casa
Inteligente.
Esta abordagem de uma boutique dentro de uma loja maior
permite ainda que se “terceirize” este escopo dedicado, mantendo a marca e a
presença perante o cliente, mas tendo uma outra empresa se dedicando à
capacitação tecnológica e ao próprio processo de venda consultiva.
Esta boutique exigirá investimentos expressivos e constantes
ao longo de sua vida útil, pois a equipe deve ser constantemente treinada e os
showrooms precisam sempre mostrar o que há de novo no mercado.
Por outro lado, os retornos financeiros podem ser
consideráveis, tanto com a venda direta de equipamentos inteligentes e a venda agregada
de eletrodomésticos inteligentes quanto pela venda de serviços através de
suporte pós-venda e contratos de manutenção e de garantia de performance.
Assim, o quadro que temos é o fabricante investindo em
marketing e divulgação de seus produtos, o varejista criando o ambiente
propício para a venda, e uma equipe pronta para prestar consultorias e orientar
o cliente. Agreguemos a isso produtos de qualidade, preços acessíveis e estoque
local para que o cliente já saia com seus principais produtos e teremos as
condições de contorno que darão o conforto e a segurança ao cliente para começar
a investir na sua Casa Inteligente.
Há, obviamente, variantes neste modelo que podem melhor se
adequar aos interesses das partes. Como já dissemos, podemos ter uma terceira empresa
envolvida na consultoria aos clientes, seja ela um spin-off da empresa
varejista, seja uma empresa independente em parceria com o varejista. A colaboração
do fabricante nos investimentos em showrooms e treinamento de equipe também é
um fator que pode minimizar custos e com isso aumentar a chance de sucesso
deste modelo de negócio.
Um modelo de negócio mais rebuscado deve levar em conta
ainda questões como atendimento a garantias, linhas de financiamento, a
possibilidade/necessidade de prestação de serviços diretamente na residência do
cliente, a importação direta de produtos (assumindo as responsabilidades de
distribuidor) e processos complementares de venda online.
Dentro deste modelo fica claro, então, quais sejam as condicionantes
básicas de viabilidade: ter o produto carro-chefe; ter o ambiente propício à
venda e ter a equipe preparada para realmente ajudar o cliente nas melhores
escolhas. Não temos, presentemente, nenhuma das condições atendidas
adequadamente, o que significa que há uma ótima oportunidade disponível no
mercada para uma iniciativa coordenada entre fabricante e varejista que leve rapidamente
ao brasileiro opções válidas para sua Casa
Inteligente.
No próximo artigo vamos abordar as principais características
que uma equipe de consultoria pré-vendas deve ter, seja ela parte da empresa
varejista, seja ela terceirizada trabalhando dentro da varejista. Clique aqui para ler o próximo artigo.
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