17 maio 2019

A Inteligência de sua Casa é um Processo e não um Brinde


Quando falamos de Internet das Coisas e Casa Inteligente um assunto que sempre se liga a isso é a Inteligência Artificial (AI – Artificial Intelligence).

Se desconsiderarmos a AI na equação, temos pouco de Internet das Coisas e nada de Casa Inteligente. Temos, isso sim, o chamado M2M (Machine-to-Machine, ou De Máquina para Máquina) e apenas uma Casa Conectada.

E qual é esta diferença entre estes dois mundos? Vamos ver se consigo explicar.

Sendo simplista, uma solução M2M considera a comunicação entre máquinas (ou Coisas) como sua principal função, habilitando a troca de dados entre estas máquinas. Aqui teremos conexões pré-estabelecidas e seguras, normalmente controladas por uma empresa que irá se beneficiar da disponibilidade de dados.

Um caso típico é o do sistema de rastreamento de veículos. Em cada veículo há um dispositivo que coleta dados e os transmite a uma central. Este dispositivo pode até ter algumas funções básicas como o travamento do veículo sob determinadas condições, mas sua principal função é enviar informações à central. As conexões entre estes dispositivos e a central são pré-determinadas, podendo envolver redes celulares ou até mesmo as redes mais novas colocadas no mercado visando a Internet das Coisas. É a central que fará a análise dos dados e determinará se alguma ação é necessária; neste caso enviará um comando ao dispositivo que executará a ação comandada, como bloquear a bomba de combustível.

Já uma solução IoT expande este conceito de M2M para que o dispositivo possa ser fonte de dados para muitos possíveis usuários e ainda abre as portas para que a conexão ocorra das mais variadas formas, sem controle formal de um “dono”. Assim, um sensor de luminosidade IoT instalado em um poste público pode passar a informação da luminosidade que está medindo para um controlador de iluminação da rua, mas pode também passar esta informação para ser usada na localização de tempestades, pelo escurecimento repentino na luz ambiente externa, por exemplo.

Mas como relaciono a luminosidade externa com uma tempestade? E se o sensor tiver sido bloqueado por sujeira ou deixado de funcionar direito? E mesmo achando que ele esteja funcionando direto, como sei a real extensão desta tempestade?

Não será um sensor que lhe dará esta capacidade, mas vários deles, quanto mais melhor. Quanto mais sensores eu utilizar numa determinada área maior minha assertividade quanto à existência de uma tempestade. Com o uso das tecnologias de análise de dados eu consigo eliminar dados “ruins” referente a sensores mal calibrados, não funcionando ou que foram bloqueados por sujeira. E como tenho muitos sensores, ainda posso determinar com precisão a região (porque sei onde os sensores estão) onde houve este escurecimento repentino e assim inferir que há uma tempestade, sua cobertura e sua velocidade de deslocamento.

Então isso seria a Inteligência Artificial? Ainda não. Por enquanto temos a coleta de dados em tempo real através de múltiplos sensores e múltiplos canais de comunicação (Internet das Coisas) e o tratamento destes dados através de analítica.

Mas será que esta aplicação de ser capaz de localizar tempestades justifica eu espalhar milhares de sensores de luminosidade por uma determinada cidade? É obvio que não. Seu eu quisesse realmente desenvolver e instalar um sistema com esta capacidade eu provavelmente não utilizaria os sensores de luminosidade, já que há outras formas, talvez melhores, de determinar isso. É aí que entra o conceito de Internet das Coisas. Já que eu tenho esses sensores de luminosidade cuidando da iluminação pública e sei onde eles estão, porque não usá-los?

E a Inteligência Artificial? Daqui a pouco chegamos nela...

E quando pensamos em nossa casa existe alguma analogia parecida? Acredito que sim!
Podemos ter um sistema de automação mais tradicional, onde os dispositivos foram projetados para funções claramente ligadas ao controle e automação da residência. A comunicação entre estes vários dispositivos é pré-determinada e qualquer inteligência está contida no próprio sistema localmente. Poderá até haver comunicação com a Internet, tanto para algumas funcionalidades de mais alto nível quanto para que o morador possa acessar seu sistema de automação fora da sua rede local. Então, talvez possamos comparar esta arquitetura à da M2M.

Mas agora tem aparecido no mercado produtos mais “inteligentes”, mais “conectados”. Agora podemos comprar lâmpadas que podem ser comandadas por aplicativos em celulares. Podemos comprar uma máquina de lavar roupas que nos mostra o que está fazendo e aceita comandos a partir do nosso smartphone. TV´s hoje nos informam o que está sendo assistido e permitem que se modifique o canal por um aplicativo.

E todos estes equipamentos estão, de alguma forma, se conectando à Internet, por isso que podemos dizer que uma casa cheia deste tipo de dispositivos é uma Casa Conectada.

E podemos fazer muitas outras coisas com este conjunto de equipamentos. Podemos usar as imagens de uma câmera de segurança para detectar movimentos e com isso acender a lâmpada na garagem. Podemos usar um sensor de presença para desligar o ar condicionado quando a sala estiver vazia...

Mas isso eu posso fazer com o sistema de automação mais tradicional, só que este último exige um pouco mais de planejamento e algum investimento inicial, enquanto que a Casa Conectada pode ir se conectando aos poucos e me dando um pouco mais de acesso a itens da casa que a automação tradicional não permite.

Mas, cada a inteligência da Casa Inteligente?

Agora sim, podemos falar de Inteligência Artificial!

Longe de mim querer definir com precisão o que seja a Inteligência Artificial; é algo bastante complexo, com muitas ramificações e formas de ser implementada. Mas vamos simplificar. Considere que a Inteligência Artificial é a capacidade de um sistema de ir aprendendo ao longo do tempo e com isso começar a inferir resultados.

Imagine que eu vá trabalhar todo dia e deixo meu celular com o GPS ativado. Assim, será possível saber quando e por onde fui trabalhar e quanto tempo levei. Após, digamos, uns seis meses fazendo isso, mas variando meus horários de viagem, alguns dias saindo às sete outros às outo e ainda outros às nove, a inteligência artificial pode começar a correlacionar horário de saída com tempo de viagem e inferir que se eu sair às sete chego em 45 minutos, seu eu sair às oito chego em uma hora e se sair às nove levo uma hora e meia para chegar ao trabalho. Este é o começo da inteligência artificial. e ela pode começar a usar esta inferência para me ajudar na programação das minhas atividades!

E podemos ir mais longe! Seguindo o caminho pelo GPS a Inteligência Artificial pode aprender que eu uso transporte público e, depois de algum tempo, ela começa a tomar a iniciativa e pesquisar antecipadamente se há algum problema com o transporte e me avisar para eu sair mais cedo.

Esses são exemplos simples de inteligência artificial, mas a parte importante destes exemplos é que há a necessidade de um tempo para o aprendizado! Essa inteligência não vem pronta.

Isso quer dizer que o usuário, seja ele o contratante de um sistema empresarial de monitoramento de frotas ou um morador de uma residência cheia de equipamentos conectados, precisa entender que os verdadeiros benefícios da inteligência artificial dependem de algumas condições:

Uma delas é o tempo para a coleta de dados, sua análise e o aprendizado em cima desta análise. É difícil estimar, podemos estar falando de meses, mas é importante lembrar que a aprendizagem vai acontecendo ao longo do tempo, até chegar a um ponto de “equilíbrio”.

Outra condição é a estabilidade ou repetibilidade. Quanto mais repetitivo for o dia-a-dia no uso da residência mais rapidamente a inteligência irá aprender e mais rapidamente poderá colaborar. Mas não se preocupe, se os hábitos não forem tão repetitivos ou se mudarem ao longo do tempo, a inteligência se adaptará, mas isso pode significar um novo período de aprendizado.

E, talvez a mais delicada condição para que a inteligência fique inteligente é que você deixe-a receber os dados do que acontece em sua casa e com seus moradores. É importante que você entenda que esta inteligência não está na sua casa e sim na Nuvem de algum provedor. Então, escolha com cuidado, mas deixe que este provedor tenha acesso para que você tenha uma Casa Inteligente. sem esse acesso, nada feito!

Então, resumindo...

Uma Casa Conectada é aquela onde há vários dispositivos conectados e trocando informações, permitindo-se saber o que está acontecendo e podendo-se comandar estes equipamentos de forma remota e até automática.

Se você escolheu um fornecedor que também ofereça a inteligência artificial como parte do seu pacote, então, se você atender às condições mínimas comentadas acima e esperar algum tempo, você começará a ter uma Casa Inteligente.

E estas condições mínimas para se ter uma Casa Inteligente devem ser entendidas pelos usuários e devem ser informadas pelos provedores de produtos e serviços. Não deixar claro que a Inteligência que permite que uma Casa possa ser considerada Inteligente é um processo, que não se compra, mas se constrói é fundamental para não causar frustrações e decepções.

Nenhum comentário:

Postar um comentário