A Internet das Coisas
é provavelmente o assunto tecnológico mais falado dos últimos anos. E ela
rapidamente se segmentou por área de aplicação, onde passamos a olhar a Internet das Coisas dividindo-a em “verticais”.
As mais conhecidas são: indústria, cidades, saúde, agronegócio, comércio e a
chamada Consumer IoT, onde
encontramos os esforços para chegarmos a uma Casa Inteligente.
Com exceção da vertical do Consumer IoT, em todas as demais vemos iniciativas sendo tomadas, empresas
investindo em desenvolver produtos e soluções, clientes entendendo os
benefícios e implementando ferramentas que se beneficiam da Internet das Coisas.
Em todas as demais verticais a motivação para estes esforços
é clara: buscar benefícios comerciais para os negócios. O desenvolvedor ou
fabricante sabe que tem um cliente exigente, que espera retorno em qualquer
investimento que faça.
A sequência natural de desenvolvimento de soluções começa
por levantar um problema ou dificuldade que o cliente possa ter com seu negócio
e transformá-la em oportunidade.
O movimento inicial pode ser do próprio cliente, que procura
ajuda para resolver um problema, ou do desenvolvedor, que busca entender um
determinado segmento, localiza um potencial problema, vislumbra um uso da
tecnologia para resolvê-lo ou minimizá-lo e oferece sua ideia ao cliente.
A partir deste momento, uma primeira parceria é criada e o
problema é mapeado e detalhado e possíveis formas de solucionar o problema são
discutidas e analisadas. Em geral, é definido um projeto piloto com as
participações diretas do desenvolvedor e do cliente, até que se chegue ao
modelo funcional que permita solucionar o problema.
A seguir, a solução é analisada para verificar possíveis reduções
de custo e simplificações em sua implementação bem como sua expansibilidade
para os demais potenciais clientes. Em alguns casos, a solução desenvolvida é
exclusiva de um determinado cliente, mas que possui várias instâncias para seu
uso; em outros a solução pode ser facilmente transportada para outros clientes
em situação similar. Em ambos os casos, a solução é “empacotada” para que possa
ser utilizada mais de uma vez, sem necessidade de grandes investimentos em
customizações.
Em resumo, iniciamos com um problema e chegamos a uma solução
com a aplicação das tecnologias.
Infelizmente, quando chegamos ao universo da Casa Inteligente não encontramos o
mesmo quadro. Os desenvolvedores de produtos para a Casa Inteligente seguem o caminho inverso: escolhem a tecnologia,
inventam uma solução e depois procuram um problema que esta solução possa
resolver.
Os motivos que levaram os desenvolvedores a este caminho
reverso são múltiplos. Entre eles podemos citar o interesse de pequenas
empresas em ganhar visibilidade e apresentar uma POC (“Prova de Conceito”)
disfarçada de produto para que as grandes se interessem e comprem as empresas
menores em busca de incorporar as tecnologias sendo desenvolvidas.
Outras apenas querem aproveitar a onda e colocar produtos
que chamem a atenção pela novidade, mesmo que se mostrem inúteis e que não resolvam
problemas existentes. O objetivo aqui é aproveitar a curiosidade do comprador vender
bem por pouco tempo e depois “sumir” do mercado até terem outro produto com as
mesmas características.
E tem aquelas que são rápidas em copiar outras empresas e saturar
o mercado com gadgets de má qualidade e baixo preço, sem qualquer suporte ou
responsabilidade para com o comprador.
Temos também grandes empresas, que acrescentam um pouco de tecnologia
aos seus produtos sem um benefício claro para seu clientes, apenas com o
objetivo de se posicionarem no mercado como fornecedores de dispositivos “inteligentes”.
E todas essas iniciativas, se no começo foram importantes
para que o conceito de Casa Inteligente
passasse a ser divulgado, hoje fazem um desserviço ao cliente e ao conceito.
Ao comprarmos produtos que não nos ofereçam reais benefícios
acabamos os considerando como supérfluos e que, ao menor sinal de dificuldade,
podem ser simplesmente descartados.
O uso errado de produtos para a Casa Inteligente, ou mesmo a sua subutilização, simplesmente
impedem que qualquer inteligência artificial ganhe o mínimo de tempo e
informações para que possa desenvolver sua inteligência e começar a apresentar
valor.
Assim, colocar um assistente de voz apenas para tocar música
não é seguir a trilha para a Casa
Inteligente. Para o mercado até entrou nas estatísticas, mas seu uso como
tocador de música não acrescenta nada ao universo da Casa Inteligente.
Em algum momento precisaremos inverter a trilha que estamos
seguindo em busca da Casa Inteligente;
precisaremos dar uma meia volta de princípios.
Precisamos que os fabricantes se preocupem mais em entender
problemas reais e desenvolver soluções que busquem resolver estes problemas de
forma plenamente satisfatória. E o segredo está em pensar no problema primeiro,
buscar informações junto aos usuários, buscar com estes mesmos usuários possíveis
soluções, mesmo que possam parecer meio inviáveis e só então aplicar as
tecnologias da Casa Inteligente e da
Internet das Coisas para oferecer
uma solução.
E esta solução deve ser séria e profissional como aquelas
desenvolvidas para as demais verticais do mundo IoT; ninguém brinca com soluções quando falamos de IoT para a indústria, a saúde ou o
agronegócio.
Se este “novo” caminho for trilhado de forma correta, os
custos serão minimamente majorados, mas as soluções serão muito mais permanentes,
trazendo benefícios financeiros a longo prazo para todos os envolvidos.
E com este “universo” caseiro mais estável e duradouro, os
esforços relacionados com a Inteligência Artificial encontrarão um campo fértil
para obter os dados, terão o tempo adequado para o aprendizado e conquistarão seus
usuários de forma mais permanente.
Até chegarmos ao ponto de nossa Casa Inteligente ser tão bem concebida que será uma parte
integrante de nossas vidas, de forma transparente, útil e satisfatória.
Obrigada George por incentivar e esclarecer sobre o assunto!
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