Eu participo de alguns grupos no Whatsapp e num deles, de especialistas em Internet das Coisas, surgiu um questionamento do que seria a melhor definição para Internet das Coisas. Infelizmente no momento eu não pude dar minha contribuição e agora, alguns dias depois, vi que o assunto se esticou um pouco.
Pensei em colocar minha opinião no grupo, mas vi que eu ia me estender demais. Então escrevo este post onde tento “desenhar” a Internet das Coisas como a vejo. Me desculpem se minha visão é tendenciosa para assuntos como Casa Conectada e Casa Inteligente. Este é o meu foco presente e é onde vejo que há a maior desinformação e, até, enganação. Eu sei que em áreas como a industrial e a rural os objetivos são mais claros e o uso de pedaços do conceito de Internet das Coisas para atender a necessidades claramente especificadas é o que interessa.
Antes de falar de Internet das Coisas deixe-me avisar que já tenho “vários alguns” anos de vida no mercado de automação industrial e, ao longo do tempo, vi a tendência de usar novas roupagens em velhas tecnologias. Muda-se o nome, muda-se um pouco o enfoque e tudo parece novo. Isto funcionou muito bem (e provavelmente ainda funcione) em mercados americanos, onde a produtividade dentro de uma empresa é movida pela competitividade. Então, toda vez que você muda a roupagem você dá novas energias aos mais afoitos para correrem atrás desta “nova tecnologia” e serem os “especialistas” dentro dos seus grupos.
Mas, vamos à Internet das Coisas. Eu trabalhei em um projeto muito interessante onde uma distribuidora de gás encanado precisava monitorar estações remotas de redução de pressão e optaram por contratar uma empresa que desenvolveu um produto alimentado a painel solar que captava as informações dos sensores de pressão, vazão e temperatura e os enviava periodicamente a um servidor via rede celular. Isto é Internet das Coisas? Obviamente que não. Este projeto foi no início dos anos 2000 e nós chamávamos isso Telemetria.
Então, o que é Internet das Coisas? Se você não quer realmente inventar nada de revolucionário, podemos dizer que Internet das Coisas é uma evolução do M2M (Machine-to-Machine – Máquina-à-Máquina), onde acrescentamos:
- Mais opções de comunicação sem fio
- Mais comunicação peer-to-peer
- Sensores e atuadores primários mais baratos, compactos e de baixo consumo
- Processamento em servidores na Nuvem (diferentemente de um conjunto dedicado em um determinado datacenter)
- O uso de Inteligência Artificial (que antes chamávamos de Sistemas Neurais ou Lógica Fuzzy – para os preciosistas, eu sei que não são exatamente as mesmas coisas, mas buscavam as mesmas funções)
- E a grande novidade: dados, muitos dados, um volume gigantesco de dados, vindos dos equipamentos do sistema ou de fontes totalmente fora do contexto. Estes dados, quando devidamente tratados e manipulados, aceleram a capacidade de aprender e inferir.
E há alguns pontos que eu acho crítico que sejam desenvolvidos a contento para que eu possa dizer em letras maiúsculas: temos INTERNET DAS COISAS.
A primeira é padronização. Falo de padronização nas redes, principalmente as sem fio, e nas formas de usá-las. Eu quero poder trocar um sensor de movimento de um fabricante por outro de um outro fabricante sem nenhuma dor de cabeça. Não quero reprogramar lógicas ou endereços.
Falo também de padronização na forma de obter dados e enviar comandos. Isto permitiria que uma certa fonte de dados possa ser utilizado por inúmeros consumidores destes dados.
Eu quero interfaces com o usuário que possam conversar com todos os dispositivos de forma completa. Não quero uma interface para cada tipo de dispositivo ou para cada fabricante. Este assunto é especialmente doloroso quando pensamos na Casa Conectada (que ainda não é Inteligente).
Eu quero a universalidade de dados, com as devidas proteções de privacidade e segurança. Sei que é complexo, mas acredito que os dados não pessoais deveriam ser de todos. Se meu vizinho tem um sensor de luminosidade que ele usa para acender as luzes do portão, porque não posso usar este mesmo sensor (ou os dados dele) para minhas luzes? Ou, menos intrusivo, porque não posso usar aos dados dos sensores de luminosidade da iluminação pública da minha rua ao invés de gastar dinheiro e energia comprando um sensor só para mim?
E eu quero muita inteligência, seja humana no desenvolvimento de aplicações (e não de aplicativos), seja artificial, analisando e inferindo continuadamente possíveis relações de causa e efeito e com isso, prevendo e prevenindo situações negativas.
Quando tivermos a padronização em comunicação, a interoperabilidade e a interconectividade, aliadas à universalidade de dados, teremos a INTERNET DAS COISAS.
Não estamos tão longe assim, mas será que todos querem chegar ao mesmo lugar que eu?
Nenhum comentário:
Postar um comentário