O conceito de Faça-Você-Mesmo (Do-It-Yourself em inglês, ou
DIY) começa a ganhar algum destaque no Brasil, talvez devido a políticas de
comercialização que alguns fabricantes começaram a adotar. E este ponto está se
tornando mais forte quando falamos de produtos relacionados com a Casa Inteligente, utilizando as
tecnologias envolvidas com a Internet
das Coisas.
Se o fabricante oferece um produto que exige um instalador, isto
pode inibir o comprador, pois há um custo extra que ele deve considerar. Talvez
este comprador prefira conversar diretamente com o instalador e esperar dele a
sugestão de qual produto comprar. E esta sugestão pode não ser o que o
fabricante oferece, destruindo qualquer esforço de marketing e publicidade que ele
tenha feito. Então, este fabricante prefere forçar a “facilidade” de instalação
do seu produto, mesmo correndo o risco de frustrar o comprador.
Há produtos que claramente não são DIY. Exemplos típicos são
aparelhos de ar condicionado. Estes equipamentos exigem cuidados com a fiação
elétrica, conhecimento para seu correto posicionamento e mão-de-obra razoavelmente
especializada para a fixação, passagem de cabos e drenos (sim, há drenos a
serem instalados).
Então o comprador prefere conversar com seu vizinho, parente
ou amigo e, mais que a recomendação de qual aparelho comprar, ele quer a
recomendação de quem contratar para instalar. Este instalador, por sua vez, vai
recomendar aquele produto que lhe dê uma boa margem e mínimas dores de cabeça. Se
for um instalador sério, escolherá marcas de renome, que tenham produtos de
qualidade.
Então, dificilmente um fabricante de aparelhos de ar
condicionado irá classificar seu produto como DIY. Sua campanha de marketing será
dirigida a outros pontos, como silêncio, eficiência e economia, dando ao
comprador argumentos para discutir com o instalador e direcionar a compra a seu
produto.
Mas há outros produtos que podem ser instalados diretamente
pelo comprador. Um aparelho de TV não necessita de um profissional para sua
instalação. Basta o comprador ler o manual, seguir as instruções e pronto. O comprador
pode ainda pedir ajuda a um parente ou amigo e assim, nem precisará ler o manual!
Várias TV´s até trazem o passo-a-passo na própria tela! Mas aqui, o fabricante
de TV não precisa dizer que seu produto é DIY; todos já consideramos que sejam!
Contudo, neste caso veremos que na grande maioria das vezes
o produto é subutilizado pois, depois de conseguir ativar as funções básicas
para as quais foi comprada, ninguém se preocupa em ler o manual e descobrir o
que mais a TV pode fazer!
Em todo caso, temos os produtos que declaradamente precisam
de instaladores e temos aqueles que não precisam de qualquer ajuda externa.
Muitos produtos para a Casa
Inteligente estão sendo oferecidos como DIY, mas talvez eles mereçam mais cuidado
por parte do comprador. Comecemos por uma câmera sem fio daquelas que colocamos
em nossa casa para dar uma vigiada no que acontece (ou simplesmente para
brincar de tecnologia). Ela custa barato, é pequena e deveria ser fácil
instalar, portanto pode ser vendida como
DIY.
Primeira recomendação ao comprador: se você não é um bom
conhecedor das tecnologias, evite comprar produtos “asiáticos” importados
esporadicamente, sem a devida representatividade em solo brasileiro. Além dos
problemas com garantia e suporte (e até com aprovações de órgãos como ANATEL),
o manual que acompanha o produto é impossível de ser entendido. A tradução é
muito mal feita, dificultando qualquer compreensão do que deve ser feito para
instalar a câmera corretamente. Prefira produtos que apresentem o mínimo de
cuidado nesse assunto.
Mas, tudo bem! Vamos à instalação DIY. Esta câmera vai usar
sua rede WiFi e um aplicativo próprio para que você possa ver as imagens e
feeds e até mesmo comandar a câmera (algumas permitem o que chamamos de PTZ,
que é a possibilidade movimentar o ângulo da câmera e de dar zoom). Em linhas
gerais, você precisa saber:
- O que QR code, e como lê-lo (necessário para localizar o aplicativo para seu smartphone).
- Como instalar um aplicativo em seu smartphone
- O nome e a senha da sua rede WiFi (para passar esta informação para a câmera)
- Como conectar seu smartphone a outra rede (a câmera inicialmente cria sua própria rede WiFi para que você possa se conectar a ela e lhe ensinar o nome e a senha da sua rede)
- Como permitir que sua câmera fale com a nuvem do fabricante (em geral sua rede está com proteção mínima e esta conexão acontecerá sem você nem saber)
Nada disso o assustou? Então pode ir em frente. Se você comprou
uma daquelas câmeras “asiáticas”, você pode ter algumas pequenas surpresas,
como falhas no processo de configuração se usar um Iphone mas nenhum problema
com um Android (ou vice-versa), mas com persistência e uso da experiência (sua
ou de terceiros) vai acabar conseguindo
Mas, se os conhecimentos exigidos acima não fazem parte do
seu dia-a-dia, como fazer? Pode pedir ajuda ao seu filho, ao seu vizinho, um
amigo... mas contratar alguém para fazer a instalação não vai fazer muito
sentido, já que este especialista vai cobrar mais caro que a própria câmera (se
for em São Paulo, só o deslocamento pode custar algumas horas de serviço a ser
cobrado do cliente).
Podemos, então, dizer que esta câmera é DIY? Fico na dúvida,
mas se mudarmos as “condições de contorno”, podemos “ensinar” o cliente de uma
forma mais eficiente, tornando-o um DIY. Minimamente, o fabricante pode fornecer
manuais melhores, com passo-a-passo bem estruturado, tutoriais (gravados no YouTube)
e suporte remoto (via chat pelo site). Com estes cuidados ele pode dizer que o
produto não precisa de instalador especializado e que o próprio comprador pode
fazer a instalação.
Será que podemos extrapolar e incluir mais algumas câmeras
na residência? Digamos, umas quatro ou cinco? Em geral não deve haver
problemas... ou haverá? Eu diria que as maiores dificuldades estariam em saber
usar o aplicativo com várias câmeras e com a velocidade de transmissão, uma vez
que pode começar a deixar seu WiFi mais lento. Você vai começar a reclamar da lentidão
do Netflix, do YouTube, etc., vai culpar o provedor de serviços, mas não vai se
lembrar de que as cinco câmeras podem estar mandando suas imagens continuadamente
para a Nuvem, principalmente se você pediu para que elas gravassem as imagens para
consultar posteriores.
Aí você decide dar mais um passo e monta um sistema de segurança,
com algumas câmeras, alguns sensores de movimento e, quem sabe, uns dois
sensores de porta aberta. Tudo isso ainda é DIY e ainda está na sua alçada de conhecimento?
Com algum esforço, alguma pesquisa e alguma ajuda, você pode
até fazer funcionar, mas com que qualidade, performance, segurança e
confiabilidade?
Será que valeu a pena economizar a mão de obra do instalador?
Quando pensamos na Casa
Inteligente, a situação se agrava, já que teremos muitos produtos de diferentes
fabricantes interagindo e compartilhando sua rede WiFi e sua atenção. Se olharmos
para cada produto isoladamente, eles até que são fáceis de instalar e, se
comprados de fabricantes sérios, são bem documentados e têm suporte adequado. Cada
um pode ser oferecido ao mercado como um produto DIY, mas quando começamos a
misturar fabricantes, a documentação não nos ajudará diretamente e o suporte oferecido
pode não conhecer o produto “estranho” ao fabricante.
Nestes casos, mais que conhecimento, você precisa paciência e
perseverança. Os produtos vão funcionar conforme prometido e vão interagir conforme
anunciado, mas os detalhes de instalação, que são inerentes a cada residência,
podem requerer uma pessoa que já tenha “apanhado” antes e usado sua paciência e
perseverança para resolver o desafio, criando experiência. Para você, cada
experiencia é única e não deverá se repetir tão cedo; já para o especialista,
cada desafio resolvido com paciência e persistência se tornou um conhecimento a
mais, facilitando os próximos desafios.
Em resumo, se você acha que tem conhecimentos suficientes para
se intitular DIY, pense nisso como um hobby, uma diversão. Use seus conhecimentos
para alguns testes de conceito, para ver se gosta das funcionalidades, se traz
algum benefício. Mas, se decidir ir em frente e partir para um universo mais integrado,
com mais equipamentos interconectados e com mais responsabilidade, pense em
contratar um especialista. Ele o ajudará a ter uma solução mais robusta, mais
segura e mais eficiente.
Lembre-se, os produtos inteligentes podem ser DIY, mas uma Casa Inteligente seguramente não o
será.
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