Muito se
fala em Internet das Coisas para o consumidor
final, em dispositivos para a casa inteligente e coisas similares.
Se bem que
muitos destes dispositivos não são, na realidade, Internet das Coisas (Internet of Things - IoT),
todo fabricante busca, obviamente, algum retorno financeiro no investimento de
desenvolvimento e marketing que fez.
E todo
usuário busca também algum retorno, nem sempre financeiro, na compra de
equipamentos inteligentes a um preço às vezes 50% maior do que o do equipamento
normal.
E, atualmente,
os investimentos não são baixos pois é necessário desenvolver todo um conjunto
de ferramentas e tecnologias auxiliares (tanto de hardware quanto de software),
uma vez que os padrões não estão estabelecidos e, assim, não se consegue adquirir
estas ferramentas já prontas. Há, ainda, muitas tentativas que dão errado,
servindo de aprendizado, mesmo antes de se chegar perto a um produto final.
Não se pode
esquecer o investimento em infraestrutura de suporte, uma vez que os produtos IoT serão uma novidade para todos os
compradores e, certamente, precisarão de uma ajuda técnica rápida e eficaz, sob
o risco de se queimar o produto e até a marca.
E temos
ainda a infraestrutura de funcionamento, uma vez que estes produtos e serviços irão
utilizar plataformas na nuvem e estas devem ser escalonáveis para poder atender
ao crescimento da demanda sem um estúpido investimento inicial.
No caso de
alguns fabricantes, este investimento e a própria precificação do produto ou
serviço atendem a objetivos indiretos, visando promover uma tecnologia ou mesmo
um ecossistema de marcas. O retorno será conseguido no licenciamento da
tecnologia ou na venda de produtos correlatos ao produto principal.
Quais, então,
são os caminhos para se conseguir o retorno no investimento? Vejamos alguns.
Retorno
na Fabricação
Pensemos,
primeiramente, no retorno que se pode obter no processo de fabricação do próprio
equipamento sendo vendido. Se o
fabricante acrescentar ao seu produto sensores de performance do próprio
equipamento, ele poderá saber se as especificações de partes como motor e
bateria foram feitas adequadamente ou se foram superdimensionadas. Neste último
caso, ele poderá reduzir as especificações e com isso baratear seu produto, sem
prejudicar a performance real do equipamento, que foi medida em campo pelos
seus próprios sensores.
No caso de
superdimensionamento, o retorno vem da redução no custo de fabricação. Caso se
verifique que na verdade o equipamento tem alguns componentes subdimensionados,
causando falhas ou não atingindo a performance desejada, o fabricante poderá
rapidamente melhorar as especificações sem ter causado grande dano à marca. Poderá,
ainda e se quiser, fazer um recall daqueles equipamentos originais que estejam
perto de falhar.
De forma
análoga, o fabricante pode também monitorar mais de perto, e com testes reais
de campo, a qualidade dos componentes fabricados pelos seus fornecedores, minimizando
a quantidade de equipamentos fabricados com componentes de baixa qualidade.
Retorno
nos Serviços em Garantia
Outra forma
do fabricante conseguir um retorno no seu investimento é na redução no tempo e
esforço gastos com o suporte em garantia. Consideremos um aparelho de ar
condicionado. Ao falhar, deixa uma família irritada com o calor e já meio
preocupada com o a marca que escolheu. Em situações normais, esta família terá
que chamar um técnico e este deverá se locomover até o cliente sem saber exatamente
qual o defeito, aumentando o custo no atendimento e perdendo pontos com o
cliente.
Já um aparelho
com os sensores de performance conectados à IoT permitirá ao fabricante se antecipar no processo, já sendo
informado pelo próprio aparelho da falha e da causa. Com isso, ele poderá tomar
a iniciativa de ligar para o cliente, agendar o atendimento e mandar o técnico
já sabendo o que deve ser feito. Com os sensores certos, é possível até se
antecipar a uma falha, efetuando a troca do componente antes que a falha ocorra.
Este é seguramente um elemento de satisfação que ajudará a fidelizar o cliente.
Venda
Continuada de Consumíveis
Outra forma
que o fabricante terá para recuperar o investimento é através da venda
continuada de produtos ligados ao equipamento principal. Ao conseguir monitorar
em tempo real os aparelhos que estão em campo, o fabricante pode determinar que
um determinado consumível esteja chegando ao final de sua vida útil e se
antecipar ao cliente, pedindo permissão para lhe enviar um produto de
reposição. Este tipo de ação traz vários benefícios: o equipamento não será
utilizado com consumíveis fora da validade, a venda destes consumíveis será maior,
uma vez que serão trocados na hora certa, e o fabricante evitará que o cliente busque
consumíveis de marcas alternativas, seja pelo custo ou pela facilidade de ser
encontrado. E, de quebra, o fabricante consegue ainda otimizar seu estoque,
pois está acompanhando a real necessidade de sua base instalada.
O fabricante
poderá, até, oferecer os consumíveis como parte de um serviço anual que inclua
algumas manutenções preventivas.
Exemplos
típicos são:
- Fabricantes de geladeira que incorporam um elemento filtrante (que precisa ser trocado periodicamente) para servir água gelada diretamente na porta da geladeira.
- Fabricantes de máquinas de café oferecendo assinaturas de elementos filtrantes e de cápsulas (acompanhando o consumo automaticamente pela IoT).
- Fornecedores de gás em botijão poderão monitorar o nível de gás e fazer a reposição automaticamente, eliminando os custos de frotas de caminhão oferecendo o produto nas ruas.
Venda
de Informações a Terceiros
O fabricante
pode ainda conseguir seu retorno vendendo as informações a terceiros. Aqui, é
importante notar que deverá haver um consentimento expresso do cliente e estes
dados devem ser agregados e filtrados de forma a não passar qualquer informação
pessoal ao comprador.
Um exemplo de
venda de dados a terceiros seria o fabricante de câmeras e sensores de presença
passando as informações para empresas de monitoramento eletrônico. O cliente
fica satisfeito de ter acesso diretamente às suas informações, pois o
fabricante as disponibiliza; e a empresa de monitoramento reduz seus custos, não
precisando instalar ou manter estes equipamentos.
De forma
alternativa, o fabricante dos equipamentos pode vender diretamente os serviços
de monitoramento eletrônico, subcontratando uma empresa para prestar este
serviço.
Venda
de Serviços Especiais
A venda de
serviços especiais opcionais também é uma forma de se conseguir o retorno no
investimento. O fabricante de aparelhos de ar condicionado inteligentes pode
oferecer um modo de funcionamento de baixo consumo que será ativado remotamente
toda vez que a concessionária informar ao fabricante que está em horário de pico
e com tarifas mais caras (é a chamada tarifa branca que virá ao Brasil em
breve).
Ou ainda,
um fabricante de tomadas inteligentes pode oferecer um serviço de análise
histórica de consumo, apontando para desvios indicativos de falha ou desgastes de
equipamentos como máquinas de lavar, geladeiras e freezers.
Com isso, o
cliente otimiza seu custo de consumo de energia e o fabricante agrega um valor
devidamente remunerado e de longa duração.
Desenvolvendo
ou Participando de um Ecossistema
O termo “ecossistema”
tem sido usado para designar um determinado produto principal e os demais
produtos que foram desenvolvidos e certificados para funcionar de forma
integrada com este produto principal. É o que vemos hoje com as famílias de produtos
ligadas ao Amazon Echo, à Apple e a outras tantas.
O fabricante
pode optar por desenvolver seu próprio ecossistema, criando um equipamento centralizador,
mas que tenha suas funções e valor independentes e licenciar terceiros a serem
aprovados para se integrarem a este produto centralizador. Obviamente, aqui o
cacife tem que ser grande, pois os demais fabricantes somente se interessarão em
fazer parte deste sistema se isso lhes trouxer retornos financeiros
expressivos.
A opção
mais direta e simples é o fabricante desenvolver seu produto já visando pertencer
a pelo menos um dos ecossistemas estabelecidos no mercado. Isto minimiza o
investimento e o risco tecnológico e, se bem escolhido, potencializa as vendas
por marketing indireto.
Conclusão
Há várias
formas de se buscar o retorno em investimento quando um fabricante investe em Internet das Coisas. – IoT. Listei aqui apenas algumas, a
maioria tiradas de pesquisas na própria na Internet.
Mas, como
todo investimento, há a necessidade de capital financeiro, recursos humanos, um
plano de negócio e, principalmente, uma ideia ou conceito que crie seu espaço
no mercado. E é fundamental lembrar que todo investimento é um risco, tem um
valor inicial muitas vezes subestimado e tem uma curva de retorno ao longo do
tempo que dependerá do conjunto de esforços de marketing, distribuição e
suporte ao usuário.
George, parabéns pela atitude de trazer esse tema que é tão procurado e ainda pouco explorado de como medir o ROI para IoT. Abraço, Thelma Troise
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