Poucos devem ter ouvido falar do SHaaS (Smart Home as a
Service), algo como ter uma casa inteligente, mas pagando pelo serviço e
não pelos componentes, diretamente.
O SHaaS se aplica
ao mercado americano, onde o conceito de um sistema de automação residencial é
pouco conhecido, com o consumidor preferindo o comprar dispositivos
inteligentes individualmente e praticar o “Do-It-Yourself”.
Isto significa, na prática, que o proprietário de uma
residência compra os vários produtos, os instala, os conecta e os programa, a
fim de ter uma série de funcionalidades cibernéticas em sua residência. Contudo, estas etapas têm se mostrado um
grande desafio quando se pensa em otimizar e integrar tudo.
Saber escolher os produtos certos é fundamental para se ter
uma solução econômica e integrada. E isto exige planejamento e experiência.
Caso contrário, o consumidor acabará comprando produtos não compatíveis entre
si. Imagine que ele comece pensando em controlar o ambiente (pensemos em um
termostato inteligente, tipo NEST) e queira colocar também um sensor de
presença para dar informações adicionais ao termostato, deixando-o “smart”, ajustando-se conforme a presença
de pessoas no ambiente. Ótimo, tudo funciona a contento.
Mas agora ele quer colocar uma iluminação inteligente.
Começa escolhendo as lâmpadas considerando preço, marca e funcionalidade, e as
instala ele mesmo. Agora, ele consegue controlar a iluminação pelo smartphone e
está todo feliz. Mas, alguns dias depois, ele lê na Internet que as lâmpadas
que ele comprou podem ser conectadas a um sensor de presença para
“inteligentemente” definir a iluminação conforme a presença de pessoas.
Isso é bom, não é? Em termos, já que ele também descobre que
o sensor de presença que ele comprou e que está conectado ao termostato não
conversa com as lâmpadas. Então ele é obrigado a comprar um segundo sensor de
presença, que ele fica sabendo que também conversa com o termostato. Então ele
troca o primeiro pelo segundo e agora tem um sensor instalado conversando com o
termostato e as lâmpadas, e um sensor na gaveta, sem uso.
Aí ele fala com o colega de trabalho, que também está
instalando dispositivos inteligentes, e descobre que as lâmpadas também podem
ser conectadas a um sensor de luminosidade para dar ainda mais opções de
controle automático.
E descobre que existe um sensor múltiplo, de presença,
luminosidade e temperatura, que conversa com as lâmpadas mas não com o
termostato!
O que ele faz? A partir deste ponto já não interessa mais, a
falta de experiência e de planejamento já causou seus danos.
Para evitar estes tipos de problemas, o mercado americano
conta com três principais opções. A primeira e mais tradicional é contratando
um integrador de sistemas. Contudo, este integrador está mais acostumado com
sistemas do que com dispositivos isolados que podem ser comprados em qualquer
loja da esquina. Ele vai poder ajudar o proprietário, mas o custo da
mão-de-obra será caro se comparado ao custo dos materiais.
A segunda opção, criada muito recentemente, é contar com a
ajuda de consultores em grandes lojas como Best
Buy e outras, que ajudarão o proprietário a escolher os produtos que melhor
conversam entre si e até darão algumas dicas de como fazer tudo funcionar. Mas
o trabalho braçal ainda será do proprietário.
A terceira opção, já há algum tempo no mercado americano, é
a chamada SHaaS. Aqui, grandes empresas oferecem o serviço de planejamento e
instalação e cobram uma taxa mensal pela utilização dos equipamentos e dos
serviços agregados. As empresas normalmente são aquelas com a qual o
proprietário já tem um relacionamento, principalmente na área de energia ou de
telecomunicações.
Estas empresas agregam alguns serviços adicionais, que não
estariam disponíveis pelas outras opções, para atrair os interessados. Em suma,
o SHaaS é uma forma de evitar os erros de falta de planejamento e experiência
em troca de uma taxa mensal e um leque muito restrito de opções (já que o
objetivo das empresas é baixar custos de investimento e massificar as
soluções).
E porque estamos falando de SHaaS em um blog focado em
Internet das Coisas (IoT)?
Simples: comecemos pelo conceito que um Smart Home precisa ter
dispositivos inteligentes, mais que simplesmente conectados. Para serem
inteligentes devem atender a pelo menos três quesitos: terem comunicação entre
si, terem capacidade de processamento local e todos usarem uma mesma interface
com o usuário.
A Internet das Coisas focada em residências trará exatamente
estes três pontos: dispositivos com capacidade de comunicação entre si e
capacidade de processamento local, todos controlados por algum assistente virtual
instalado em seu smartphone ou mesmo em algum equipamento fazendo também a função
de gateway.
E isto chegará ao Brasil? Ainda é cedo dizer com que força
chegará, mas com certeza teremos algumas empresas oferecendo algo nestes
moldes. Tudo indica que o caminho será um pouco ao contrário do que acontece no
mercado americano, onde a demanda existia antes da oferta. Aqui, como não temos
a cultura do “Do-It-Yourself” nem dispositivos inteligentes disponíveis em
qualquer loja, as grandes empresas deverão trazer suas soluções como uma
novidade de baixo custo para atrair aqueles clientes que não pensavam em ter
uma casa inteligente.
Estas empresas focarão em parcerias com grandes fabricantes
visando baixar os custos e contarão com sua atual estrutura e abrangência para
atrair o mercado.
Mesmo que conquistem um número razoável de clientes, estas
empresas não conseguirão satisfazer plenamente o mercado, uma vez que suas
soluções, obrigatoriamente, deverão ser bastante restritas tanto quanto a
produtos como quanto à oferta de serviços, já que o foco será massificação.
O mercado mais exigente continuará preferindo sistemas mais
robustos, instalados por integradores preparados e certificados. Mas este mesmo
mercado irá querer ver nestes sistemas a modernidade inerente à IoT, com dispositivos de baixo custo, integração
transparente com assistentes virtuais e uma série de novos serviços e
funcionalidades que somente a IoT
poderá oferecer.
Cabe, então, aos fabricantes brasileiros definir seus
caminhos futuros por uma de duas trilhas principais: eles podem melhorar e
expandir seus sistemas atuais, incluindo as funcionalidades mais relacionadas à
IoT, ou se especializar em algum
segmento deste mercado, como a fabricação de dispositivos, o desenvolvimento de
gateways e softwares locais ou ainda a criação de serviços na nuvem trazendo a inteligência
de mais alto nível aos sistemas de terceiros.
E todos se beneficiarão por quaisquer iniciativas em SHaaS que as grandes empresas trouxerem,
pois elas aumentarão o mercado, trazendo clientes que ainda não pensavam em
automação e IoT e que,
eventualmente, irão querer progredir para sistemas mais robustos e com mais
capacidade de personalização.
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