29 março 2017

SHaaS (Smart Home as a Service) – Longe mas chegando

Poucos devem ter ouvido falar do SHaaS (Smart Home as a Service), algo como ter uma casa inteligente, mas pagando pelo serviço e não pelos componentes, diretamente.

O SHaaS se aplica ao mercado americano, onde o conceito de um sistema de automação residencial é pouco conhecido, com o consumidor preferindo o comprar dispositivos inteligentes individualmente e praticar o “Do-It-Yourself”.

Isto significa, na prática, que o proprietário de uma residência compra os vários produtos, os instala, os conecta e os programa, a fim de ter uma série de funcionalidades cibernéticas em sua residência.  Contudo, estas etapas têm se mostrado um grande desafio quando se pensa em otimizar e integrar tudo.

Saber escolher os produtos certos é fundamental para se ter uma solução econômica e integrada. E isto exige planejamento e experiência. Caso contrário, o consumidor acabará comprando produtos não compatíveis entre si. Imagine que ele comece pensando em controlar o ambiente (pensemos em um termostato inteligente, tipo NEST) e queira colocar também um sensor de presença para dar informações adicionais ao termostato, deixando-o “smart”, ajustando-se conforme a presença de pessoas no ambiente. Ótimo, tudo funciona a contento.

Mas agora ele quer colocar uma iluminação inteligente. Começa escolhendo as lâmpadas considerando preço, marca e funcionalidade, e as instala ele mesmo. Agora, ele consegue controlar a iluminação pelo smartphone e está todo feliz. Mas, alguns dias depois, ele lê na Internet que as lâmpadas que ele comprou podem ser conectadas a um sensor de presença para “inteligentemente” definir a iluminação conforme a presença de pessoas.

Isso é bom, não é? Em termos, já que ele também descobre que o sensor de presença que ele comprou e que está conectado ao termostato não conversa com as lâmpadas. Então ele é obrigado a comprar um segundo sensor de presença, que ele fica sabendo que também conversa com o termostato. Então ele troca o primeiro pelo segundo e agora tem um sensor instalado conversando com o termostato e as lâmpadas, e um sensor na gaveta, sem uso.

Aí ele fala com o colega de trabalho, que também está instalando dispositivos inteligentes, e descobre que as lâmpadas também podem ser conectadas a um sensor de luminosidade para dar ainda mais opções de controle automático.

E descobre que existe um sensor múltiplo, de presença, luminosidade e temperatura, que conversa com as lâmpadas mas não com o termostato!

O que ele faz? A partir deste ponto já não interessa mais, a falta de experiência e de planejamento já causou seus danos.

Para evitar estes tipos de problemas, o mercado americano conta com três principais opções. A primeira e mais tradicional é contratando um integrador de sistemas. Contudo, este integrador está mais acostumado com sistemas do que com dispositivos isolados que podem ser comprados em qualquer loja da esquina. Ele vai poder ajudar o proprietário, mas o custo da mão-de-obra será caro se comparado ao custo dos materiais.

A segunda opção, criada muito recentemente, é contar com a ajuda de consultores em grandes lojas como Best Buy e outras, que ajudarão o proprietário a escolher os produtos que melhor conversam entre si e até darão algumas dicas de como fazer tudo funcionar. Mas o trabalho braçal ainda será do proprietário.

A terceira opção, já há algum tempo no mercado americano, é a chamada SHaaS. Aqui, grandes empresas oferecem o serviço de planejamento e instalação e cobram uma taxa mensal pela utilização dos equipamentos e dos serviços agregados. As empresas normalmente são aquelas com a qual o proprietário já tem um relacionamento, principalmente na área de energia ou de telecomunicações.
Estas empresas agregam alguns serviços adicionais, que não estariam disponíveis pelas outras opções, para atrair os interessados. Em suma, o SHaaS é uma forma de evitar os erros de falta de planejamento e experiência em troca de uma taxa mensal e um leque muito restrito de opções (já que o objetivo das empresas é baixar custos de investimento e massificar as soluções).

E porque estamos falando de SHaaS em um blog focado em Internet das Coisas (IoT)?

Simples: comecemos pelo conceito que um Smart Home precisa ter dispositivos inteligentes, mais que simplesmente conectados. Para serem inteligentes devem atender a pelo menos três quesitos: terem comunicação entre si, terem capacidade de processamento local e todos usarem uma mesma interface com o usuário.

A Internet das Coisas focada em residências trará exatamente estes três pontos: dispositivos com capacidade de comunicação entre si e capacidade de processamento local, todos controlados por algum assistente virtual instalado em seu smartphone ou mesmo em algum equipamento fazendo também a função de gateway.

E isto chegará ao Brasil? Ainda é cedo dizer com que força chegará, mas com certeza teremos algumas empresas oferecendo algo nestes moldes. Tudo indica que o caminho será um pouco ao contrário do que acontece no mercado americano, onde a demanda existia antes da oferta. Aqui, como não temos a cultura do “Do-It-Yourself” nem dispositivos inteligentes disponíveis em qualquer loja, as grandes empresas deverão trazer suas soluções como uma novidade de baixo custo para atrair aqueles clientes que não pensavam em ter uma casa inteligente.

Estas empresas focarão em parcerias com grandes fabricantes visando baixar os custos e contarão com sua atual estrutura e abrangência para atrair o mercado.

Mesmo que conquistem um número razoável de clientes, estas empresas não conseguirão satisfazer plenamente o mercado, uma vez que suas soluções, obrigatoriamente, deverão ser bastante restritas tanto quanto a produtos como quanto à oferta de serviços, já que o foco será massificação.

O mercado mais exigente continuará preferindo sistemas mais robustos, instalados por integradores preparados e certificados. Mas este mesmo mercado irá querer ver nestes sistemas a modernidade inerente à IoT, com dispositivos de baixo custo, integração transparente com assistentes virtuais e uma série de novos serviços e funcionalidades que somente a IoT poderá oferecer.

Cabe, então, aos fabricantes brasileiros definir seus caminhos futuros por uma de duas trilhas principais: eles podem melhorar e expandir seus sistemas atuais, incluindo as funcionalidades mais relacionadas à IoT, ou se especializar em algum segmento deste mercado, como a fabricação de dispositivos, o desenvolvimento de gateways e softwares locais ou ainda a criação de serviços na nuvem trazendo a inteligência de mais alto nível aos sistemas de terceiros.


E todos se beneficiarão por quaisquer iniciativas em SHaaS que as grandes empresas trouxerem, pois elas aumentarão o mercado, trazendo clientes que ainda não pensavam em automação e IoT e que, eventualmente, irão querer progredir para sistemas mais robustos e com mais capacidade de personalização.

Nenhum comentário:

Postar um comentário