A Multidisciplinariedade da Internet das Coisas
A Internet das Coisas (IoT)
não é só tecnologia. Ela está se mostrando tão disruptiva que pede a
participação de todos para se tornar realmente útil e corretamente integrada em
nossas vidas e negócios.
Chamemos estes “todos” que participarão da IoT de “players”.
Então temos os players tradicionais.
O mais óbvio é o player
tecnológico, que irá desenvolver todos os aspectos técnicos necessários
para o bom funcionamento da IoT.
Incluímos aqui os engenheiros, pesquisadores e programadores, que têm missões
muito específicas do que deve ser desenvolvido ou criado. Podemos incluir ainda
os pequenos empreendedores, que costumam ter uma sólida base técnica e uma
ideia de um produto e se dedicam a desenvolver mais uma prova de conceito que
um produto totalmente finalizado.
Estes players são elementos chave na existência da IoT, posto que sem as ferramentas e
desenvolvimentos tecnológicos os desafios imaginados pelos visionários não seriam
possíveis de serem solucionados.
Mas o perfil do player tecnológico não inclui duas
características: as visões macro do problema e da solução e a capacidade de
gerenciar pessoas.
Aqui entra o player
visionário. Foi ele o iniciador deste processo e continua sendo ele um
apresentador de desafios, mas com uma clara visão do todo, de onde se quer
chegar. Mas ele precisa dos players tecnológicos para que tudo se torne realidade.
Mas nenhum destes dois players tem qualquer característica
de gerenciador de equipes e esforços. É onde precisamos dos players administradores.
Eles são principalmente gerenciadores de pessoas, fazendo as
equipes de players tecnológicos atingirem objetivos bem claros por caminhos bem
definidos. Existe um grupo especial de players administradores que estão
presentes nos consórcios, associações e similares, preocupados em desenvolver as
normas e procedimentos que ajudarão a IoT
a ser uma realidade global. Estes players costumam representar gigantes
multinacionais interessadas em serem as guiadoras das tendências.
Até aí, tudo bem. Estes são os players normalmente
encontrados quando uma nova tecnologia (ou necessidade dela) desponta no mercado.
Mas a IoT pede outros players,
talvez tão importantes quanto estes.
Um destes é o player jurídico/legislativo.
Este player se tornou necessário na IoT
devido a todos os assuntos referentes à propriedade das informações, seu uso e
sua segurança. Em situações anteriores, estes tipos de preocupação começavam a
aparecer depois da tecnologia bem definida, implementada e sedimentada. Mas com
a IoT, esta preocupação está surgindo
juntamente com a tecnologia, e até ajudando a nortear os esforços em
desenvolvimento e criatividade.
Temos também o player governo, cujo interesse está em
múltiplas áreas. Obviamente, este player vê a possibilidade da arrecadação de
impostos, mas vê também a necessidade de ajudar a fomentar este mercado, posto
que os verdadeiros detentores da inteligência envolvida com o desenvolvimento
da IoT gerarão muitos recursos para
seus respectivos países. Adicionalmente, este player sabe que, mais cedo ou
mais tarde, terá que entrar como elemento regulador, mesmo que dentro apenas de
sua área de atuação.
Mas o sucesso da IoT
está em saber o que fazer com ela, saber como tirar proveito de sua futura
onipresença e onisciência. A questão não é como tratar os dados, como transformar
dados em informações; esta parte já está muito bem desenvolvida e as
ferramentas já estão disponíveis a algum tempo. O que é preciso é inventar o
que fazer com estas informações. É onde entra o player inventor de usos. Este player é quem vai dizer que é interessante
e tem uso fazer a previsão de tempo em microescala usando as informações de
pressão barométrica dos smartphones. É ele que vai dizer que é possível mapear
os buracos das ruas e avenidas usando acelerômetros e GPS instalados no transporte
público (equipamentos já utilizados com o fim de monitorar deslocamentos e comportamentos
dos motoristas). Sem o player inventor a IoT
será o que é hoje: uma solução de coleta de dados sem muita inteligência, ou
melhor, “esperteza” (talvez a melhor tradução para “smart”).
E chegamos ao player que ´ria usar as ferramentas de Big
Data e as invenções do player inventor para tornar isso realidade. Estamos falando
do player programador (na verdade
falando de toda a gama de profissionais envolvidos com o desenvolvimento de
software).
Este player será um upgrade dos profissionais que temos
hoje, pois ele trabalhará obrigatoriamente em múltiplas plataformas (a Nuvem e
seus aplicativos, os gateways e suas capacidades de computação de borda e os
sistemas móveis – smartphones e tablets – e seus aplicativos). Não será mais
produtivo separar estas plataformas em utilizar especialistas para cada uma. Haverá
a necessidade de se trabalhar o todo, integrando as capacidades computacionais
de cada plataforma diretamente no código fonte.
Tendo definido os possíveis equipamentos, protocolos e plataformas,
tendo desenvolvido as aplicações e as ferramentas para que elas atinjam seus
objetivos, chegamos à realidade mais “física”: a posta em marcha real de tudo
isso, seja globalmente seja no âmbito de uma residência, uma empresa ou um
determinado projeto. É onde entra o player
técnico.
Ele, como sempre, será o verdadeiro responsável para que
tudo funcione conforme esperado. Ele descobrirá os truques e manhas de cada
produto, saberá como integrar cada elemento desta intricada rede. Obviamente,
seus conhecimentos serão setorizados, havendo um player dedicado ao ambiente
mais “chão de fábrica”, o outro pensando em conectividade entre os equipamentos
e mais um se preocupando com a performance das internets sendo usadas, entre
tantos especialistas.
Pensando, agora, do lado do usuário, seja ele o usuário
final em sua casa, seja ele a empresa que está oferecendo serviços baseados em IoT utilizando recursos de terceiros,
temos aqui dois players: o player
usuário comum e o player auditor.
O player auditor será principalmente responsável pelo uso
adequado e conforme programado das tecnologias de IoT dentro das empresas. Ele será um facilitador, um agregador de
esforços e um descobridor de ovelhas desgarradas e de reacionários. Sem ele, o
sucesso do uso das tecnologias de IoT
dentro de empresas será muito difícil, uma vez que este player é o que melhor
entende o todo do funcionamento da empresa.
O player usuário comum merece uma análise à parte (que será
feita em breve). Neste momento é importante chamar a atenção que ele sempre
estará presente pois, afinal, é ele que sempre paga a conta, de uma forma ou
outra. E é importante também entender que há três tipos básicos de player
usuário comum:
- · Aquele que participa diretamente dos acontecimentos, sabendo, mesmo que superficialmente o que está acontecendo, tendo sua aprovação e acompanhando o processo. É o caso de usuários de equipamentos inteligentes em sua residência e que sabe que estes equipamentos estão se comunicando com outros através da IoT.
- · Aquele que participa indiretamente, sem saber exatamente como está contribuindo ou o que está acontecendo. É o caso de pessoas que compram TV´s inteligentes e não sabem que podem estar sendo monitorados quanto às preferências de programação e horários.
- · E aqueles que são usuários sem nem desconfiar, seja por desconhecimento, desinteresse ou mesmo má fé de algumas empresas. Foi o caso recente de um fabricante de um determinado dispositivo de uso pessoal que oferecia a possiblidade de comando das suas funcionalidades via smartphone. Esta empresa havia acrescentado alguns sensores (desnecessários para o funcionamento oferecido) aos dispositivos e com isso monitorava também informações como batimentos cardíacos e temperatura corporal dos usuários (mais detalhes neste link).
De todos estes players, o que considero o mais escasso no
mercado, é o player inventor.
Este papel é novo no mercado tecnológico. Suas responsabilidades
sempre foram exercidas de forma pontual e esporádica pelos demais players
(talvez o Steve Jobs seja a exceção).
Mas hoje, a IoT
precisará de muitos destes players e eles deverão vir das mais variadas disciplinas.
Serão médicos, psicólogos, educadores, agricultores, arquitetos...
Enfim, os tecnólogos deverão se preparar a ouvir o que estes
players inventores (ou mesmo sonhadores) têm a dizer, não serem incrédulos, e materializarem
estes sonhos em produtos e serviços. A IoT
o permitirá.
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