É interessante ver novas tecnologias chegando, querendo
facilitar nossa vida.
E a possibilidade de comandar equipamentos elétricos e
eletrônicos com sua voz parece atrair muito o público em geral. Poder dizer
"acenda a luz do corredor" e, como mágica, você vê a luz se acendendo
parece algo útil.
Em uma pesquisa recente feita no mercado americano 42% dos
entrevistados incluiriam comando por voz em seu sistema de automação
residencial “perfeito”.
Então, como funciona, em linhas gerais, os comandos por voz
na automação residencial?
Primeiro dividamos o universo em dois: um, onde a automação
residencial é feita por um sistema único, de um único fabricante (chamemos de “sistema”);
o outro, onde existe um equipamento central (chamemos de “dispositivo”) que
conversa com a nuvem e com vários outros dispositivos dos mais diversos
fabricantes. Esta última é a solução mais comum usada nos Estados Unidos, enquanto
que a primeira é praticamente a única no mercado brasileiro (e em vários outros
países).
Cada universo usa uma abordagem diferente: quando temos um
sistema, o comando de voz é feito através do seu smartphone. Quando tempos um
dispositivo, ele está a todo instante de ouvidos ligados, esperando uma frase
específica para entrar em ação. Dois exemplos mais comuns são o Amazon Echo,
que fica esperando a frase “Alexa” e o Google Home, esperando “Okay Google”.
Em ambos os casos, o fabricante se vale das ferramentas na
nuvem para reconhecimento de voz (ou seja, precisa da internet). Sua voz é “transcrita”
pelo provedor e interpretada para ver se o sistema ou dispositivo consegue
identificar algum comando a ser obedecido.
Para os sistemas, você precisa acessar a função de escuta
que fica ativa somente enquanto você quiser. Você acessa a função, fala sua
frase, a ferramenta na nuvem a transcreve e a envia para a central do sistema
que, então, interpreta e executa o comando, se ele fizer sentido.
Mas com dispositivos é diferente. A partir do reconhecimento
da frase de alerta, o dispositivo passa a escutar tudo o que você falar em
seguida e busca interpretar como se fosse uma pergunta ou um comando. E se
conseguir uma interpretação que faça sentido, ou responde à sua pergunta ou
executa o comando que o equipamento entendeu como válido.
O maior problema desta abordagem, comparada com a solução dos
sistemas, é o universo de atuação. Enquanto os sistemas têm como seu universo
aquilo que está sendo diretamente controlado pelo sistema e ainda dependem de
uma ação muito clara da atuação do comando por voz, os dispositivos atuam não
só nos equipamentos diretamente conectados mas também em toda a gama de possíveis
ações na internet.
O que significa isso? Significa que sistemas não vão mandar e-mails
para seu chefe nem vão fazer compras pela internet sem que você realmente
queira isso. Já, os dispositivos podem ser ativados sem querer e acabar fazendo
coisas que você não quer!
Recentemente, houve dois casos reportados pela mídia. Em ambos
os casos, o comando de ativação (“Alexa” ou “Okay, Google”) foi dito durante
uma propaganda de TV e alguns equipamentos reagiram como se fosse um morador ativando
o equipamento.
Imagine você se preparando para dormir, trancando a casa,
ligando o alarme, desligando as luzes da sala e indo para o seu quarto, assistir
TV, que você programou para desligar em uma hora, caso você pegue no sono. E você
pega no sono. E acorda de manhã para encontrar as luzes da sala acesa e a casa
destrancada. O que aconteceu? Enquanto você dormia apareceu um anúncio de um
destes dispositivos mostrando as suas funcionalidades, com um casal chegando em
casa e comandando que as luzes sejam acesas e a porta destrancada. O seu
dispositivo simplesmente obedeceu!
As novas tecnologias, assim como a Internet das Coisas,
sempre passam por fases de aprendizado e adaptação. Mas o que estamos vendo
hoje é um atropelo de algumas fases em busca de um mercado consumidor sem os
devidos testes e cuidados, o que pode causar momentos “engraçados” mas também podem
causar problemas mais sérios.
Vejo como muito positivo o mercado brasileiro não ter
aderido aos dispositivos. Sistemas podem parecer mais complexos e exigirem mão
de obra especializada (integrador), mas trazem inerentemente a experiência desta
mão de obra para que os projetos sejam feitos e instalados com seriedade e
segurança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário