08 fevereiro 2017

Cuidado com o que Você Diz!

É interessante ver novas tecnologias chegando, querendo facilitar nossa vida.

E a possibilidade de comandar equipamentos elétricos e eletrônicos com sua voz parece atrair muito o público em geral. Poder dizer "acenda a luz do corredor" e, como mágica, você vê a luz se acendendo parece algo útil.

Em uma pesquisa recente feita no mercado americano 42% dos entrevistados incluiriam comando por voz em seu sistema de automação residencial “perfeito”.

Então, como funciona, em linhas gerais, os comandos por voz na automação residencial?

Primeiro dividamos o universo em dois: um, onde a automação residencial é feita por um sistema único, de um único fabricante (chamemos de “sistema”); o outro, onde existe um equipamento central (chamemos de “dispositivo”) que conversa com a nuvem e com vários outros dispositivos dos mais diversos fabricantes. Esta última é a solução mais comum usada nos Estados Unidos, enquanto que a primeira é praticamente a única no mercado brasileiro (e em vários outros países).

Cada universo usa uma abordagem diferente: quando temos um sistema, o comando de voz é feito através do seu smartphone. Quando tempos um dispositivo, ele está a todo instante de ouvidos ligados, esperando uma frase específica para entrar em ação. Dois exemplos mais comuns são o Amazon Echo, que fica esperando a frase “Alexa” e o Google Home, esperando “Okay Google”.

Em ambos os casos, o fabricante se vale das ferramentas na nuvem para reconhecimento de voz (ou seja, precisa da internet). Sua voz é “transcrita” pelo provedor e interpretada para ver se o sistema ou dispositivo consegue identificar algum comando a ser obedecido.

Para os sistemas, você precisa acessar a função de escuta que fica ativa somente enquanto você quiser. Você acessa a função, fala sua frase, a ferramenta na nuvem a transcreve e a envia para a central do sistema que, então, interpreta e executa o comando, se ele fizer sentido.

Mas com dispositivos é diferente. A partir do reconhecimento da frase de alerta, o dispositivo passa a escutar tudo o que você falar em seguida e busca interpretar como se fosse uma pergunta ou um comando. E se conseguir uma interpretação que faça sentido, ou responde à sua pergunta ou executa o comando que o equipamento entendeu como válido.

O maior problema desta abordagem, comparada com a solução dos sistemas, é o universo de atuação. Enquanto os sistemas têm como seu universo aquilo que está sendo diretamente controlado pelo sistema e ainda dependem de uma ação muito clara da atuação do comando por voz, os dispositivos atuam não só nos equipamentos diretamente conectados mas também em toda a gama de possíveis ações na internet.

O que significa isso? Significa que sistemas não vão mandar e-mails para seu chefe nem vão fazer compras pela internet sem que você realmente queira isso. Já, os dispositivos podem ser ativados sem querer e acabar fazendo coisas que você não quer!

Recentemente, houve dois casos reportados pela mídia. Em ambos os casos, o comando de ativação (“Alexa” ou “Okay, Google”) foi dito durante uma propaganda de TV e alguns equipamentos reagiram como se fosse um morador ativando o equipamento.

Imagine você se preparando para dormir, trancando a casa, ligando o alarme, desligando as luzes da sala e indo para o seu quarto, assistir TV, que você programou para desligar em uma hora, caso você pegue no sono. E você pega no sono. E acorda de manhã para encontrar as luzes da sala acesa e a casa destrancada. O que aconteceu? Enquanto você dormia apareceu um anúncio de um destes dispositivos mostrando as suas funcionalidades, com um casal chegando em casa e comandando que as luzes sejam acesas e a porta destrancada. O seu dispositivo simplesmente obedeceu!

As novas tecnologias, assim como a Internet das Coisas, sempre passam por fases de aprendizado e adaptação. Mas o que estamos vendo hoje é um atropelo de algumas fases em busca de um mercado consumidor sem os devidos testes e cuidados, o que pode causar momentos “engraçados” mas também podem causar problemas mais sérios.


Vejo como muito positivo o mercado brasileiro não ter aderido aos dispositivos. Sistemas podem parecer mais complexos e exigirem mão de obra especializada (integrador), mas trazem inerentemente a experiência desta mão de obra para que os projetos sejam feitos e instalados com seriedade e segurança.

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