As primeiras previsões de quantidade de dispositivos conectados
à IoT (Internet das Coisas) eram assombrosas. Em 2010 a Ericsson previa 50
bilhões em 2020; e a Cisco apoiou esta estimativa. Mas o recorde é da IBM, que
em 2012 previu 1 trilhão de dispositivos já em 2015.
Não vamos entrar em detalhes sobre o que seria considerado
como um dispositivo conectado, nem o que seria considerado como IoT. Só vamos falar que saiu
recentemente uma pesquisa da GSMA baixando este número para 25 bilhões em 2025.
E na verdade, não vou nem analisar estes últimos números.
Eu quero falar da análise que a Psikick, uma empresa americana
fornecedora de sensores autoalimentados, fez desta queda de expectativa.
Ela achou o culpado! As baterias! Serão elas que inibirão o
crescimento vertiginoso inicialmente previsto.
E as contas são até divertidas.
Se tivermos 1 trilhão de dispositivos, todos alimentados por
baterias, todas durando 10 anos, teríamos quase 274 milhões de trocas de
bateria por dia. Num cenário mais “realista”, onde as baterias durariam 3 anos,
o número de trocas vai para 913 milhões por dia!
Para trocar 913 milhões de bateria por dia seriam
necessárias quase 29 milhões de pessoas, trabalhando 8 horas por dia, apenas trocando
baterias (o problema do desemprego está resolvido!).
Mesmo se considerarmos os 25 bilhões previstos pela GSMA, seria
quase 7 milhões de baterias por dia, no cenário de duração de 10 anos.
Ela então analisa mais especificamente o uso de IoT na indústria. Usando o exemplo que ela
apresentou, considere uma planta com 10.000 dispositivos, todos alimentados por
bateria, com duração de três anos. Isto significaria a troca de 9 baterias por
dia. Ela então lembra que na indústria o uso destes sensores pode implicar em
duas coisas: baterias com exigências de instalação que as fazem custar até
centenas de dólares e, por outro lado, o custo da mão-de-obra, que pode ser
mais alto que o custo das baterias mais baratas.
E, seguindo esta linha de argumentação, ela chega à conclusão
que a salvação do mundo IoT é
através de sensores autoalimentados, sua especialidade.
Em um dos seus Whitepapers, que pode ser obtido neste link, ela apresenta em detalhes uma análise
dos dois principais pontos que podem atrapalhar o avanço de sensores IoT na indústria: projetos mal feitos e
o consumo de energia.
A abordagem para a qualidade de projetos é muito
interessante e verdadeira. Para que tenhamos sensores efetivos, precisos e de
baixo consumo eles devem ser projetados do zero; não devem ser apenas uma
montagem à la Lego de componentes disponíveis no mercado. Esta montagem sem cuidados
pode acabar criando dispositivos que consomem mais do que o ótimo ou que não
respondem tão adequadamente às variações ambientais.
Em seguida ela apresenta algumas ideias de como desenvolver
sensores autoalimentados, tendo como alternativas de alimentação a energia
solar, o efeito termoelétrico, a vibração captada por cristais piezelétricos e
até alimentação sem fio via radiofrequência.
Mas eu peguei este assunto só como gancho para pensar nos
desafios que ainda temos pela frente: vemos que a Internet das Coisas está amadurecendo, mas ainda falta muito e quero
mostrar uma preocupação recorrente.
A velocidade com que a tecnologia avança, aliada à vontade
de empresas em aproveitarem este crescimento, está criando um processo
evolutivo da Internet das Coisas em ritmo
excessivamente acelerado.
Até recentemente, toda nova tecnologia era concebida,
desenvolvida, documentada, colocada em testes; se aprovada, passava por uma
primeira padronização/regulação/especificação, chegava ao mercado de forma
lenta e controlada e ia se adaptando às realidades de uso e de seus usuários. Estas
adaptações iam incorporando novas funcionalidades, mas sempre respeitando os
que a tinham adotado anteriormente. As coisas se moviam numa velocidade em que
era possível acompanhar as evoluções e acertar rumos, promovendo as bem
sucedidas e lentamente eliminando as que não tinham futuro.
Atualmente, a tecnologia está tão focada no seu próprio
umbigo que não está observando o que acontece ao seu redor nem como ela interage
com outros ecossistemas. Vamos desenvolver sensores o mais rapidamente possível
sem nos preocuparmos com a banda de comunicação; este é um problema para o
pessoal de comunicações resolver. Só desenvolvemos sensores com baixo consumo
de energia porque assim meu produto é preferido, não porque entendemos que a
logística de trocar bateria é complexa (isso só vai acontecer somente daqui a três
anos mesmo).
É como se saíssemos da época das carruagens, com a
introdução do automóvel (final do século XIX) aos dias de hoje (130 anos de
intervalo) em apenas 10, sem nos preocuparmos com a produção de combustíveis,
construção de estradas, estacionamentos, redes de abastecimento e de assistência
mecânica, deixando que cada um destes nichos se desenvolva por conta própria e
no ritmo necessário (muito mais rápido que o desejado).
O ritmo de evolução das tecnologias está tão frenético que
não há mais tempo para correção de rotas, nos sobrando apostar em um caminho e
rezar para que seja o certo. Se não for, ele não será corrigido e sim apenas abandonado,
juntamente com todos que por ele seguiram.
Não estaria na hora de um pouco mais de coordenação e de crescimento
organizado e sustentável (considerando meramente aspectos tecnológicos)?
Ou teremos mesmo que trocar 913 milhões de baterias daqui a
alguns anos?
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