Neste último artigo da série sobre um possível plano de
negócios para a “massificação” de produtos para a Casa Inteligente abordaremos o elemento chave de todo esse o
processo: o usuário e cliente de produtos e serviços envolvidos com a Casa Inteligente.
Discutiremos como melhor atender a um morador que queira investir
nas tecnologias envolvidas bem como o que pode ser feito para motivá-lo a
procurar contratos de suporte que impliquem em pagamentos mensais.
Se bem que há semelhanças entre o perfil do usuário de
automação residencial tradicional e do usuário de produtos e serviços para a Casa Inteligente, este último tem
características específicas que devem ser valorizadas.
Obviamente, é necessário primeiramente analisar o perfil
econômico. O investimento na Casa
Inteligente tem a característica de ser muito granulado, podendo ser feito
aos poucos e sem muito planejamento.
Muitas vezes o primeiro passo já foi dado sem nem se
preocupar com a Casa Inteligente: ter
um bom smartphone, uma conexão com a Internet de qualidade e uma rede WiFi
minimamente abrangente instalada dentro da casa que será inteligente. Podemos
chamar isso da infraestrutura da Casa
Inteligente.
Não é importante a metragem do imóvel ou seu valor, nem se é
alugada ou não. Como o conceito de Casa
Inteligente está nos produtos e serviços, estes podem ser aplicados a
qualquer tamanho de residência. Ademais, praticamente qualquer produto pode ser
facilmente removido e instalado em uma nova residência, sem prejuízo para a
residência que deixou de ter produtos inteligentes.
Como as compras são pontuais, elas podem ocorrer por impulso
caso o comprador tenha sido “provocado” o suficiente. As compras não precisam
entrar em orçamentos ou planejamentos, se bem que desta forma podemos acabar
tendo uma Casa Inteligente meio
bagunçada.
Mas, afinal, quem é esse potencial comprador?
Tipos de Clientes
Podemos dividi-los em quatro grandes grupos. Em primeiro lugar
temos aqueles fanáticos por tecnologia. Eles compram produtos pelo prazer de
possuí-los, explorá-los e tirar deles tudo o que possam dar, muitas vezes pelo
mero prazer de experimentar. Em muitos casos, testam mais de um, até achar
aqueles com os quais mais se divertem. Podemos chamar este grupo de “Fanáticos”.
Depois temos os compradores do tipo “porque não?”. Já que
vamos comprar alguma coisa nova, como uma TV, uma geladeira ou mesmo o portão
da garagem, por que não comprar estes produtos com um pouco mais de tecnologia
e inteligência embarcada? Chamemos este grupo de “Seguidores”.
Temos ainda aqueles que buscam funcionalidades específicas e
avaliam se lhes trarão benefícios. Estes ponderam as diferenças de preço entre
os produtos “normais” e os “inteligentes” e avaliam se a diferença compensa os
benefícios. Chamemos este grupo de “Funcionais”.
Por fim, temos aqueles que procuram soluções visando atender
a alguma necessidade específica, como segurança ou cuidado com crianças e
idosos. Estes avaliam as opções e tendem as escolher os produtos e serviços
mais “inteligentes” pois imaginam encontrar flexibilidade e melhorias ao longo
do tempo. Chamemos a estes de “Pontuais”.
Fora deste universo de tipos básicos de comprador, há,
obviamente, outros interessados, mas seus processos de compra são mais
erráticos e geralmente não há a necessidade de tratá-los como um nicho ou
grupo.
Analisemos, agora, estes grupos pela ótica de venda de
produtos.
O grupo dos Fanáticos
são os mais fáceis de serem convencidos a comprarem produtos para a Casa Inteligente. Eles buscam estes
produtos naturalmente, pesquisando e lendo sobre o que existe e mesmo o que ainda
está por vir, principalmente no mercado internacional. Em geral têm a possibilidade
de trazer produtos de fora pois viajam muito ou desenvolveram canais de
“importação expressa e barata”.
Em muitos casos começarão sua investida eles mesmo trazendo
algum produto de fora, que pode ser desde um assistente virtual a algum
equipamento mais específico, como uma câmera 360° ou uma fechadura inteligente.
Mas eles não vão poder contar com seus canais de importação o tempo todo, então
há sempre uma oportunidade de se vender produtos localmente a membros deste
grupo.
Para estes, o varejista tem que se preocupar com alguns
pontos específicos. Primeiramente, seu pessoal deve estar muito atualizado
sobre o que acontece no mundo da Casa
Inteligente. Na primeira resposta errada do consultor ou se ele demonstrar
falta de conhecimento este cliente vai procurar outros canais para comprar seus
produtos. O cliente procura no consultor um pouco de experiência para ajudá-lo
a confirmar que a escolha de marca e características esteja sendo feita
corretamente. Ele já decidiu que quer uma TV inteligente, mas qual? Ter
consultores que conheçam bem os produtos ofertados e minimamente o que vem
acontecendo no mercado é fundamental para agradar a este cliente.
É importante também que os estoques estejam disponíveis para
retirada imediata ou entrega expressa, posto que o cliente está disposto a
pagar o “preço Brasil” em troca de ter o produto na mão o mais rapidamente
possível. Idealmente, este varejista tem ainda a opção de servir de canal de
importação para produtos que ainda não estejam sendo ofertados no mercado
brasileiro.
Para o grupo dos Seguidores
o foco é convencê-los dos benefícios de adquirir produtos com mais inteligência
embarcada. O consultor precisará ser capaz de montar cenários onde os
benefícios sejam claramente visíveis para o cliente. Não adianta recitar uma
série de vantagens que não lhe digam respeito; é necessário encontrar os pontos
que possam atrair o comprador a gastar um pouco mais. Aqui o segredo está em
descobrir onde o comprador coloca mais atenção: segurança, economia,
conforto...
Mas o principal é mostrar que os produtos são confiáveis
(pelo menos na sua função básica), que a inteligência pode ser desabilitada
total ou parcialmente, e que ele pode ir dando seus passos em direção à Casa Inteligente no ritmo que achar
mais conveniente.
Ao ser bem sucedido conquistando um Seguidor, o consultor pode ter certeza que conquistou um cliente em
um relacionamento mais continuo. Ele nunca será um Fanático, mas com certeza
buscará o varejista toda vez que precisar comprar um produto que possa ser mais
“inteligente”, buscando as orientações que o direcionem para uma boa compra.
A abordagem com os Funcionais
é de pouca conversa furada e muitas respostas precisas. Eles já bolaram o
conjunto de produtos que lhes interessam, muito provavelmente focando em alguma
aplicação específica; pode ser a parte de áudio e vídeo, pode ser a parte de
iluminação, ou outra qualquer. Eles vêm com perguntas específicas, querendo
saber se tal produto faz tal coisa, se há dificuldades de instalação, se há conflitos
de compatibilidade. O consultor deve focar em responder as perguntas e buscar completar
o quadro de equipamentos, mas sem sair da aplicação específica que o cliente já
escolheu.
É importante, contudo, saber se este tipo de cliente já tem
outros equipamentos inteligentes pois a futura integração entre estas ilhas que
o próprio cliente criou pode ser um motivo de frustração.
Em geral, para estes, a venda incluirá vários produtos e é
importante que o consultor crie um sistema coeso, tanto funcionalmente quanto
esteticamente.
Por último temos os Pontuais.
Estes em geral não são “letrados” em tecnologia, têm uma necessidade muito
específica e querem apenas resolver este assunto com o mínimo de conhecimento da
parte deles. Para estes a abordagem é simples e direta. O consultor deve
entender claramente a necessidade do cliente, buscar verificar as condições de
uso e de instalação, mostrar ao cliente como funcionará no dia-a-dia e, se possível,
até fazer algumas demonstrações. Este tipo de cliente é muito aberto à
contratação de serviços que lhe garantam o pleno funcionamento do que venha a adquirir.
Como resultado destes diferentes tipos de cliente, o nosso
consultor deve ser perspicaz o suficiente para identificar o grupo ao qual o
cliente pertence e atendê-lo adequadamente ou direcioná-lo a um consultor com o
perfil adequado.
Serviços
Continuados
E quando a meta do consultor é vender contratos de suporte, extensão
de garantia e serviços de manutenção e instalação? Como é a receptividade de
cada um destes grupos?
O Fanático, em
princípio, não terá interesse imediato pois acha que ele sabe mais sobre o
assunto que um bando de técnicos que ele não conhece. Talvez ele se interesse
mais por opções de aluguel de equipamentos ou por extensão de garantia.
O Seguidor terá
pouco interesse, afinal ele não está comprando a inteligência e sim o produto
nas suas funções “normais”. Ele poderá se interessar por uma venda pontual de
serviços de instalação e configuração, mas a abordagem tecnológica não o
atrairá. Este tipo de cliente pode se interessar por serviços de instalação e por
extensão de garantia.
O Funcional é o
que mais se interessará pela contratação de serviços. Ele já definiu o que quer
pensando na aplicação mais do que nos equipamentos. Ele quer que funcione como
ele planejou, dando-lhe a maior riqueza de benefícios possível e não quer dores
de cabeça ou falhas intermitentes durante o uso. Por outro lado, ele quer
sentir a evolução do seu sistema, quer aprender o que pode fazer e sempre
tentar tirar o maior proveito, o que implica em ir modificando as programações
e funções à medida que ele se acostuma com o sistema. Para este tipo de cliente
a venda de um contrato de suporte, mesmo sem incluir a presença de um técnico
em sua residência, é muito interessante. Ele não terá dificuldades em seguir
instruções dadas remotamente por um técnico, mas quer alguém que lhe dê os
passos para melhorar seu sistema a cada dia. Para este cliente contratos que
incluam reparos e manutenções podem ser bem vindos.
Outro cliente que gostará de um suporte continuado é o Pontual. Ele busca resolver um problema
específico e qualquer ajuda que lhe tire as preocupações e as dores de cabeça é
bem vinda. Ele estará especialmente interessado em serviços que de alguma forma
melhorem o que ele busca. Se for um sistema acompanhamento de idosos, um
serviço de monitoração continuada, com equipes de suporte e geração de alarmes
será bem interessante.
Assim, a prestação continuada de serviços é mais interessante
para aqueles clientes que não são conhecedores das tecnologias mas que buscam os
benefícios delas.
E há, sempre, a oportunidade de serviços muito específicos
para cada grupo que podem atraí-los e fidelizá-los, mas aqui será necessária
muita imaginação.
Conclusão
Com este artigo encerramos a série que apresenta as
considerações necessárias para se adaptar um modelo de negócios utilizado em países
como os USA para o mercado brasileiro.
Tentamos responder a algumas perguntas, como: O que podemos
aprender deste modelo? O que precisamos modificar? O que precisamos criar do
zero?
Analisamos os produtos, o mercado varejista, os
profissionais e os clientes dentro de uma realidade brasileira, cientes de que
ainda não existe nenhum esforço direcionado no mercado brasileiro para atender
a esta futura demanda.
É uma oportunidade de pioneirismo,
de definição de padrões. Ser o primeiro pode ser interessante, mas o caminho
tem que ser muito bem traçado e acompanhado para não ser um mero abridor de
portas para o sucesso de outros.
Acreditamos neste mercado
no Brasil e achamos que há empresas serias no Brasil para tomarem a iniciativa.
Será necessário investimentos, planejamento, ajuda de especialistas e,
sobretudo, conhecimento da nossa realidade.
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