Uma das coisas que gosto sobre tecnologia é seu uso,
digamos, inusitado. A Internet das
Coisas abre um leque ainda desconhecido de possibilidades, bastando ter
visão e imaginação para desenvolver produtos e aplicações que possam se
diferenciar no mercado.
E que tal uma garrafa de vinho conectada? Funciona assim: imagine
um kit completo, formado por uma “camisa” e garrafas especialmente projetadas
para se encaixar na “camisa”.
Esta camisa tem um touchscreen com várias funcionalidades e
é conectada via WiFi com a Internet. Esta camisa também tem uma válvula
especial que se encaixa nas garrafas para poder servir o vinho e também
preservá-lo quando não está sendo tomado.
Como essas garrafas tem um formato especial para casar com a
camisa, você tem que comprá-las do mesmo fornecedor, mas ele lhe oferece uma
vasta gama de opções, diretamente dos melhores produtores.
Com a tela touchscreen da camisa você pode dar nota aos
vinhos que toma, receber recomendações e encomendar mais garrafas. Pode também
navegar por páginas de informações sobre as vinícolas e uvas, aumentando seu
conhecimento enquanto aprecia uma taça de vinho.
Parece uma ideai interessante, um bom uso da tecnologia?
Pois bem, uma startup americana chamada Kuvée tomou esta
iniciativa e colocou este produto no mercado americano. E quanto custa tudo
isso? A compra inicial, que inclui a camisa e quatro garrafas, sai por $178
(dólares americanos) e depois você pode fazer uma assinatura de vinhos para
receber mensalmente ou a cada dois meses.
E a Kuvée conseguiu rapidamente levantar de investidores
seis milhões de dólares! Isso tudo aconteceu em 2016. E como estamos agora?
Pois bem, a Kuvée está fechando as portas. Ela parou de
vender seus produtos, está liquidando o estoque de vinhos e, oficialmente, está
procurando alguém interessado em comprar a empresa para dar continuidade ao
negócio.
E quais motivos ela alega para não ter conseguido sobreviver
no mercado? São, basicamente, dois motivos: os incêndios que ocorreram nas
vinícolas na região de Napa, na Califórnia, dificultando a criação de estoque
para expandir os negócios, e a necessidade de altos investimentos para educar o
mercado, implicando que o mercado ainda não estava pronto para seu produto
“revolucionário”!
Mas, que lições podemos tirar deste quase sucesso?
Primeiramente, que é aparentemente fácil levantar recursos para
concretizar ideias inovadoras. Afinal, esta ideia conseguiu levantar seis
milhões de dólares em apenas três horas!
Mas, principalmente, que ideias inovadoras precisam
sobreviver ao escrutínio do mercado, normalmente reacionário. É necessário
primeiro criar a necessidade para então oferecer a solução. E isto pode ser
conseguido por campanhas de marketing bem planejadas, por parcerias com
empresas já estabelecidas no mercado ou por um planejamento de crescimento
realista que leve em conta não só os recursos financeiros como a curva de
aceitação do público alvo.
O mundo tecnológico hoje é muito rápido. Rapidamente você consegue
criar e documentar uma boa ideia, patenteá-la até. Por preços razoáveis
consegue montar uma campanha de marketing de um produto que ainda nem existe, colocá-lo
na mídia e procurar investidores.
Levantar investimentos pode demorar um pouco mais e você corre
o risco de demorar demais e sua ideia perder validade. Mas, se consegue o
investimento com certa rapidez, aí começam os verdadeiros desafios.
Obviamente, você não pensou nos mínimos detalhes de por seu
produto em produção. Você corre o risco de demorar mais que imaginava,
enfrentar dificuldades não previstas ou até mesmo ver que seu produto é
inviável sem algumas modificações razoavelmente pesadas.
Ou até mesmo corre o enorme risco de receber ou ter novas
ideais no meio de caminho e se sentir compelido a alterar o produto original para
absorver estas novas ideias, atrasando o desenvolvimento e alterando a
funcionalidade original do produto que você “vendeu” aos investidores.
Para que você não incorra nestes erros o principal segredo é
ter na sua equipe profissionais focados em gerenciar e executar um projeto. Não
é mais a hora de ter ideias brilhantes. É a hora de cumprir cronogramas e orçamentos,
de buscar fornecedores e parceiros confiáveis e capazes, de detalhar o plano de
marketing e comercialização e de definir a forma e o ritmo de crescimento da
sua nova empresa.
E neste assunto, entenda muito bem seu mercado consumidor, pois
ele pode ser reacionário à sua ideia. Neste caso, seu planejamento deve prever
uma curva lenta de crescimento e muito gasto com marketing “educativo”.
Em resumo, entenda que boas ideias vão encontrar
interessados em investir nelas, mas o sucesso vai muito além de ter quem as
apoie e de criar protótipos e provas de conceito. É preciso preparação, planejamento
e profissionalismo.
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