A arquitetura
da Internet das Coisas tem sido
discutida profusamente, mas pouco se tem falado da incorporação da tradicional
automação residencial à IoT. Muitos fabricantes
e desenvolvedores tem se preocupado com a conectividade direta de dispositivos
com a nuvem, apostando no uso de WiFi ou de redes celulares (modificadas ou não).
Quando olhamos
para o mercado de automação residencial mundo afora vemos duas vertentes claramente
distintas. Por um lado, temos os sistemas totalmente fechados e integrados, que
só funcionam com equipamentos e softwares do mesmo fabricante, mesmo que usem
redes de comunicação abertas. Esta abordagem tem levado fabricantes nacionais a
entregarem sistemas simplificados, sem muitas opções de equipamentos e
funcionalidades, devido ao alto custo de desenvolvimento e fabricação.
Por outro
lado, temos os ecossistemas, onde o fabricante desenvolve um equipamento
central e homologa ou certifica equipamentos de terceiros que se comunicam com
esta central. Não temos hoje no mercado brasileiro ninguém que se destaque
nesta abordagem, pois é necessária uma força financeira e empresarial muito
grande para impor ao mercado (e aos demais fabricantes que comporiam o
ecossistema) um padrão.
Em ambos os
casos vemos uma certa restrição nas opções de equipamentos e, consequentemente,
nas opções de custo e funcionalidade.
A opção
pelos ecossistemas é interessante pelo marketing e pela “ajuda” em divulgar os
conceitos de interoperabilidade e interconectividade, se bem que de forma muito
restrita. Já o uso de sistemas fechados oferece uma integração muito mais
sólida, uma garantia de funcionalidade maior, mas a um custo significativamente
maior, pois não conta com o volume de vendas do mercado “Do-It-Yourself” e
exige mão-de-obra especializada (integradores).
Então, qual seria a melhor opção?
Obviamente,
um misto das duas soluções. Teríamos fabricantes de sensores e atuadores utilizando
os protocolos de comunicação de forma integral e totalmente fiel, garantindo
assim sua compatibilidade. Suas vendas estariam diretamente relacionadas com a
qualidade e funcionalidade de seus produtos.
E teríamos fabricantes
de sistemas de automação se dedicando a desenvolver centrais locais que
conversassem com praticamente qualquer sensor ou atuador que atendesse às normas
dos protocolos das redes mais usadas, focando em entregar soluções de software com
aplicações inovadoras. Estes fabricantes também se dedicariam a contratar plataformas
IoT para entregar novas
funcionalidades aos seus clientes.
Como todo sistema
de automação tem muitos sensores e atuadores para uma única central, cada grupo
de fabricantes pode desenvolver seus negócios conforme estes perfis: produção em
massa e distribuição simplificada para os fabricantes de sensores e atuadores e
projetos de software e prestação de serviços para os fabricantes de centrais. O
primeiro grupo precisa se preocupar apenas em seguir os desenvolvimentos nos
protocolos de comunicação. Já o segundo grupo focaria nos desenvolvimentos de
funcionalidade, comunicação com as plataformas na Nuvem e integração com
interfaces com o usuário em linguagem padronizada.
Este segundo
grupo será o responsável por aproximar a automação residencial à Internet das Coisas, pois é justamente
este gateway o elo de ligação entre os dois mundos. No mundo IoT, este gateway faria o chamado
processamento de borda (ou local), além de garantir a plena funcionalidade do
sistema na perda da conectividade com a Internet.
Então,
estes fabricantes precisarão focar tanto em hardware quanto em software?
Não mais.
Estão aparecendo
no mercado fabricantes de gateways multiprotocolos, com capacidade de programação,
que poderão ser usados por estes fornecedores de sistemas de automação como sua
base tecnológica para se dedicarem ao desenvolvimento do software e suas
funcionalidades.
Um dos
últimos exemplos a aparecer no mercado é o Alegro
100 da VIA Technologies. Sem entrar nos detalhes técnicos, que podem
ser obtidos aqui,
é uma plataforma de hardware, certificada pela OCF (Open Connectivity
Foundation) com capacidade de comunicação em Ethernet, BlueTooth, KNX-TP, KNX-RF, ZigBee e
Z-Wave. Oferece ao fabricante a possiblidade de desenvolvimento de aplicações
em Android e Linux e pode até ter seu invólucro customizado em OEM.
E está
chegando ao Brasil (vejaaqui).
Quanto mais
cedo os fabricantes brasileiros aderirem a esta segregação, maiores a chances
de sucesso no mundo IoT, inclusive
em escala internacional.
Hoje, o
desafio destes fabricantes, nos modelos atuais, é ter que lidar com
praticamente tudo: desenvolver sensores e atuadores, centrais inteligentes,
apps e interfaces com o usuário, ser conhecido no mercado, treinar integradores
e oferecer suporte a estes.
A segregação
permitirá concentrar esforços e recursos em uma gama menor de
responsabilidades, acelerando o tempo de chegada ao mercado, minimizando os
investimentos e permitindo a especialização.
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