01 fevereiro 2017

A Torre de Babel da Internet das Coisas (IoT)

“O castigo de querer chegar perto dos deuses”


A Internet das Coisas (Internet of Things – IoT) é um conjunto de dois conceitos: Coisas inteligentes e uma comunicação envolvendo estas Coisas.

E esta comunicação não vai indo bem.

Foquemos no mercado americano, onde o usuário padrão compra as partes de diferentes fabricantes baseado no que cada parte oferece e tentar fazer com que estas partes se comuniquem. Ele compra um Nest e umas lâmpadas da Philips porque sabe que um conversa com o outro. Mas, mais tarde ele descobre que este mesmo Nest não conversa com as lâmpadas da Cree.

E o que está acontecendo para melhorar esta integração e eliminar a Torre de Babel?
Temos muitos players diretamente envolvidos: Microsoft, Qualcomm, Samsung, Intel, Apple, Google Amazon, LG...

Alguns tentam desenvolver um padrão e impô-lo ao mercado. É o caso da Apple, da Google e da Amazon. Cada um criou seu gateway e trabalhou junto aos fabricantes para ter um conjunto mínimo de equipamentos compatíveis.

Mas, quando se faz isso, é preciso se preocupar com dois aspectos desta comunicação: as chamadas camada de rede e camada de aplicação. De forma simplificada, a primeira determina a forma física de comunicação, por exemplo WiFi, Bluetooth ou ZigBee. A segunda determina a “linguagem” de troca de informações e comandos.

Quando buscamos a integração, ou seja, uma forma de garantir que todos conversem com todos, precisamos analisar esta questão de forma separada para cada camada.

As dificuldades relacionadas à camada de rede são principalmente de hardware, uma vez que para cada forma é necessário um componente específico. Assim, uma lâmpada que quisesse se comunicar via WiFi e Bluetooth, precisaria ter ambos os componentes instalados, dificultando a engenharia, aumentando o custo e gerando possíveis interferências entre si.

A “solução” encontrada até agora é prover o gateway de várias opções instaladas. Assim, ele poderia falar WiFi, Bluetooth e ZigBee, por exemplo. Mas isso traz algumas dificuldades na hora de configurar o sistema, pois o usuário tem que se preocupar em administrar vários conceitos e requisitos ao mesmo tempo. Ele tem que se preocupar, por exemplo, em posicionar os equipamentos de forma a garantir as conectividades conforme as características de cada rede.

E traz um segundo ponto preocupante: a dependência de um gateway. Os dispositivos de diferentes padrões não poderão conversar entre si e dependerão exclusivamente do gateway (e em muitas vezes da própria Internet do usuário). Assim, um sensor de presença em WiFi precisa do gateway para comandar uma lâmpada em ZigBee.

Tendo até resolvido a padronização da rede de comunicação, a camada de aplicação também impõe uma grande barreira. Para que um sistema se torne viável tecnicamente, as Coisas precisam estar falando no mesmo idioma. O comando de acender lâmpada, por exemplo, deve ser enviado de um dispositivo para outro sem ter que se preocupar em saber fabricante e modelo para então definir o “idioma” a ser usado. Isto causaria um grande desafio de engenharia de software, sem contar inúmeros bugs.

E temos ainda a má vontade dos fabricantes em aderir a esta ideia pois tolheria em muito sua liberdade de criação. De nada adiantaria criar uma nova funcionalidade se o “idioma” não souber dar este comando. Uma tomada que medisse sua própria temperatura (pensando em segurança) não teria a quem informar pois o “idioma” não supôs esta necessidade.

E o que está sendo feito além das soluções individuais destes gigantes do mercado?

A Qualcomm, Microsoft, LG e Sony, entre outras, se juntaram e fundaram a AllSeen Alliance. Esta aliança está desenvolvendo a plataforma de conectividade chamada AllJoyn.

A Intel e Samsung, junto com outras, fundaram a Open Interconnect Consortium. Este consórcio está dando suporte ao desenvolvimento da IoTivity, mais uma plataforma de conectividade.

Mais recentemente, A Microsoft, a Qualcomm e a Eletrolux se juntaram à Open Interconnect Consortium e mudaram o nome para Open Connectivity Foundation (OCF). Mas não saíram da AllSeen, continuam lá.

Em outubro de 2016 as duas se juntaram, sem se juntar demais. A AllSeen Alliance continua existindo, se dedicando à AllJoyn. A OFC agora dá suporte tanto para a AllJoyn quanto para a IoTivity, além de estar desenvolvendo suas próprias especificações.

Mesmo com este esforço de união, há muitos desafios pela frente e um deles é o que fazer com as inciativas individuais da Apple, Amazon e Google.

Então, como pode ser visto, a total integração das Coisas na IoT ainda está longe e depende de empresas gigantescas, que têm seus objetivos próprios de dominação do mercado.
Apenas como nota para aqueles que conhecem a automação industrial, veja o caso do Fieldbus Foundation FF), uma ideia dos anos 1990 de uma rede de comunicação padrão entre todos os fabricantes. Ela existe mas ainda não se tornou um padrão, pois ainda não interessa aos fabricantes dos equipamentos de medição e controle do mercado industrial (que participaram “ativamente” das comissões que definiram o protocolo).

E como deve se comportar o cliente brasileiro? Como ainda não temos no Brasil esta parafernália de equipamentos o cliente brasileiro não precisa se preocupar com este estágio da evolução do IoT e pode esperar pelas definições mais claras. Quando as regras estiverem definidas teremos no país uma boa oferta de produtos, tanto dos players multinacionais quanto dos fabricantes locais.


E fique acompanhando este blog para saber quando este momento estiver prestes a chegar! 

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