A quem realmente pertence um dispositivo IoT? Vamos pensar em algo relativamente
simples: a sua cafeteira, só que das modernas, daquelas que se dizem IoT. Aquela que usa a nuvem para saber
dos seus hábitos, pesquisar sua agenda, intuir a que horas você vai acordar, saber
se está acompanhado(a) e decidir quanto de café deve fazer e a que horas ele
deve estar pronto. Ah, ela também sabe quanto pó de café você comprou e sabe
quando vai acabar e já programou a entrega de uma nova remessa. Simples, não?
Você até que pagou caro por esta cafeteira, mas ela é muito
boa mesmo! Quase melhor que sua mãe! E o café até que é bom!
Você comprou, então ela é sua, certo? Depende...
Esta cafeteira faz parte do mundo Internet das Coisas, então ela se comunica com a nuvem através da
sua rede WiFi, muito provavelmente. Ela também tem acesso a muitas de suas
informações pessoais bem como, possivelmente, a câmeras e sensores para saber o
que está acontecendo e reagir conforme planejado.
Então, ela precisa ter um nível de segurança alto para que
não seja hackeada, invadida ou controlada por terceiros não autorizados. E de
quem é a responsabilidade para evitar que isso aconteça?
Até um certo grau, a responsabilidade é sua, configurando
senhas e roteadores de forma a aumentar a dificuldade de invasão.
Mas também é responsabilidade do fabricante, que deve ter
desenvolvido um sistema operacional (sim existe um sistema operacional dentro
da sua cafeteira) que seja robusto. Até aí, tudo bem, você pesquisou antes de
comprar e sabe que o fabricante é preocupado com a segurança e robustez tecnológica
da sua cafeteira. Mas, por quanto tempo?
Afinal, da mesma forma que antivírus precisam de
atualizações, sua cafeteira também vai precisar. Novas formas de ataque vão
aparecer fazendo com que o sistema operacional da sua cafeteira precise de
atualizações. Alterações nas estruturas de comunicação na nuvem e até mesmo
novas funcionalidades que o fabricante desenvolveu também causam a necessidade
de atualizações.
Então, o fabricante precisa atualizar sua cafeteira. Ele
deve lhe mandar um email com instruções? Ou deve fazer isso automaticamente,
sem incomodá-lo(a)? Obviamente, a primeira opção é inaceitável, afinal a
cafeteira não tem teclado nem monitor e seria uma loucura você atualizar sua
cafeteira apenas apertando os botões de fazer café...
Então, o fabricante tem que ter acesso à sua cafeteira a qualquer
hora... viu, ela já não lhe pertence, pelo menos não totalmente... ela também
pertence ao fabricante.
E se o fabricante quer ter sucesso duradouro, ele tem muito
com o que se preocupar.
Primeiramente precisamos analisar de onde vem este
fabricante. Era um fabricante de cafeteiras que entrou no mundo IoT? Ou era uma start-up que decidiu
entrar no mundo do café? Em ambos os casos, o fabricante era bom numa coisa e
desconhecia a outra. Aí ele tem duas opções: ou cria a capacitação internamente
ou terceiriza. A primeira opção costuma ser cara e de difícil adaptação, uma
vez que ele não conhecia nada do assunto, e agora tem que investir e contratar
pessoal numa área que ele desconhece.
A segunda opção é mais simples, mas traz seus riscos. Ele precisa
escolher um parceiro numa área de negócio que ele desconhece. Ele, como
vendedor do produto final, será responsável perante o mercado, sem saber
exatamente os riscos que ele está trazendo para seu cliente. O parceiro pode se
perder no processo, mudar de foco ou mesmo descobrir que não está sendo
rentável e sair da parceria sem pensar muito.
Mas tudo bem, seu fabricante escolheu um parceiro adequado e
juntos desenvolveram um produto confiável, que faz tudo aquilo que falamos
antes e que é seguro.
E você, como deve se comportar? Primeiramente, você deve ter
em mente que não comprou uma máquina de fazer café e sim um dispositivo IoT. Portanto, você deve tratá-la como
tal. Sim, ler o manual ou assistir aos tutoriais. Sim, conectá-la (na tomada e
na rede WiFi).
Mas, você tem que cuidar dela, afinal ela está viva, como se
fosse um Tamagotchi. Você
vai utilizar um aplicativo no seu celular para acompanhar a saúde cibernética
da sua cafeteira. Você precisa saber se ela está conectada, se tem pó de café e
água (afinal você ainda não comprou aquele robô ajudante), se existe alguma
atualização a caminho (provavelmente você vai ter que autorizar que aconteça) e
se a atualização deu certo.
No começo temos a fase do Nascimento, também chamado de Introdução.
O produto é novo no mercado, você é iniciante na Internet das Coisas. Haverá a necessidade de várias atualizações e
acertos (de ambos) nesta fase até que as arestas estejam aparadas.
Depois vem a fase do Crescimento,
onde as atualizações trarão novas funcionalidades, elas não serão tão
frequentes mas serão benvindas.
A seguir temos a fase da Maturidade. Nesta fase, pouco muda. Serão pouquíssimas atualizações,
apenas para corrigir problemas mais sérios, nenhuma nova funcionalidade será
implementada e algumas das até existentes podem até ser canceladas.
Mas, quanto tempo duram estas fases? Você precisa ter em
mente que sua cafeteira somente terá vida longa se seu fabricante também tiver.
Se ele falir ou mudar de negócio logo sua cafeteira vai deixar de ser
atualizada e a comunicação com a nuvem vai começar a dar problemas. Mas, com um
pouco de sorte, você ainda vai poder comandá-la manualmente para que faça seu
café.
Depois, você também tem que se preocupar com as atualizações
dos demais dispositivos IoT que você
tem, principalmente daqueles que de alguma forma se comunicam com sua cafeteira.
Se os deixar desatualizados eles podem parar de conversar com sua cafeteira, e
lá se vai o café prontinho na hora em que você entra na cozinha.
E, no final dos seus dias, a cafeteira vai atingir a Obsolescência ou Declínio. É quando sua cafeteira é apenas um enfeite ou um incômodo.
Ainda não está tão velha que possa ser considerada uma relíquia. Está na hora
de comprar uma nova. E está na hora de decidir se joga a antiga fora ou se a
guarda no sótão para, uns 20 anos mais tarde, ter um valor enorme como
relíquia.
Este é o chamado Ciclo
de Vida.
Adorei! George escreve muito bem, gostosa a leitura e real. Abraço! Thelma Troise
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