08 agosto 2017

O Ciclo da Vida

A quem realmente pertence um dispositivo IoT? Vamos pensar em algo relativamente simples: a sua cafeteira, só que das modernas, daquelas que se dizem IoT. Aquela que usa a nuvem para saber dos seus hábitos, pesquisar sua agenda, intuir a que horas você vai acordar, saber se está acompanhado(a) e decidir quanto de café deve fazer e a que horas ele deve estar pronto. Ah, ela também sabe quanto pó de café você comprou e sabe quando vai acabar e já programou a entrega de uma nova remessa. Simples, não?

Você até que pagou caro por esta cafeteira, mas ela é muito boa mesmo! Quase melhor que sua mãe! E o café até que é bom!

Você comprou, então ela é sua, certo? Depende...

Esta cafeteira faz parte do mundo Internet das Coisas, então ela se comunica com a nuvem através da sua rede WiFi, muito provavelmente. Ela também tem acesso a muitas de suas informações pessoais bem como, possivelmente, a câmeras e sensores para saber o que está acontecendo e reagir conforme planejado.

Então, ela precisa ter um nível de segurança alto para que não seja hackeada, invadida ou controlada por terceiros não autorizados. E de quem é a responsabilidade para evitar que isso aconteça?
Até um certo grau, a responsabilidade é sua, configurando senhas e roteadores de forma a aumentar a dificuldade de invasão.

Mas também é responsabilidade do fabricante, que deve ter desenvolvido um sistema operacional (sim existe um sistema operacional dentro da sua cafeteira) que seja robusto. Até aí, tudo bem, você pesquisou antes de comprar e sabe que o fabricante é preocupado com a segurança e robustez tecnológica da sua cafeteira. Mas, por quanto tempo?

Afinal, da mesma forma que antivírus precisam de atualizações, sua cafeteira também vai precisar. Novas formas de ataque vão aparecer fazendo com que o sistema operacional da sua cafeteira precise de atualizações. Alterações nas estruturas de comunicação na nuvem e até mesmo novas funcionalidades que o fabricante desenvolveu também causam a necessidade de atualizações.

Então, o fabricante precisa atualizar sua cafeteira. Ele deve lhe mandar um email com instruções? Ou deve fazer isso automaticamente, sem incomodá-lo(a)? Obviamente, a primeira opção é inaceitável, afinal a cafeteira não tem teclado nem monitor e seria uma loucura você atualizar sua cafeteira apenas apertando os botões de fazer café...

Então, o fabricante tem que ter acesso à sua cafeteira a qualquer hora... viu, ela já não lhe pertence, pelo menos não totalmente... ela também pertence ao fabricante.

E se o fabricante quer ter sucesso duradouro, ele tem muito com o que se preocupar.

Primeiramente precisamos analisar de onde vem este fabricante. Era um fabricante de cafeteiras que entrou no mundo IoT? Ou era uma start-up que decidiu entrar no mundo do café? Em ambos os casos, o fabricante era bom numa coisa e desconhecia a outra. Aí ele tem duas opções: ou cria a capacitação internamente ou terceiriza. A primeira opção costuma ser cara e de difícil adaptação, uma vez que ele não conhecia nada do assunto, e agora tem que investir e contratar pessoal numa área que ele desconhece.

A segunda opção é mais simples, mas traz seus riscos. Ele precisa escolher um parceiro numa área de negócio que ele desconhece. Ele, como vendedor do produto final, será responsável perante o mercado, sem saber exatamente os riscos que ele está trazendo para seu cliente. O parceiro pode se perder no processo, mudar de foco ou mesmo descobrir que não está sendo rentável e sair da parceria sem pensar muito.

Mas tudo bem, seu fabricante escolheu um parceiro adequado e juntos desenvolveram um produto confiável, que faz tudo aquilo que falamos antes e que é seguro.

E você, como deve se comportar? Primeiramente, você deve ter em mente que não comprou uma máquina de fazer café e sim um dispositivo IoT. Portanto, você deve tratá-la como tal. Sim, ler o manual ou assistir aos tutoriais. Sim, conectá-la (na tomada e na rede WiFi).

Mas, você tem que cuidar dela, afinal ela está viva, como se fosse um Tamagotchi. Você vai utilizar um aplicativo no seu celular para acompanhar a saúde cibernética da sua cafeteira. Você precisa saber se ela está conectada, se tem pó de café e água (afinal você ainda não comprou aquele robô ajudante), se existe alguma atualização a caminho (provavelmente você vai ter que autorizar que aconteça) e se a atualização deu certo.

No começo temos a fase do Nascimento, também chamado de Introdução. O produto é novo no mercado, você é iniciante na Internet das Coisas. Haverá a necessidade de várias atualizações e acertos (de ambos) nesta fase até que as arestas estejam aparadas.

Depois vem a fase do Crescimento, onde as atualizações trarão novas funcionalidades, elas não serão tão frequentes mas serão benvindas.

A seguir temos a fase da Maturidade. Nesta fase, pouco muda. Serão pouquíssimas atualizações, apenas para corrigir problemas mais sérios, nenhuma nova funcionalidade será implementada e algumas das até existentes podem até ser canceladas.

Mas, quanto tempo duram estas fases? Você precisa ter em mente que sua cafeteira somente terá vida longa se seu fabricante também tiver. Se ele falir ou mudar de negócio logo sua cafeteira vai deixar de ser atualizada e a comunicação com a nuvem vai começar a dar problemas. Mas, com um pouco de sorte, você ainda vai poder comandá-la manualmente para que faça seu café.

Depois, você também tem que se preocupar com as atualizações dos demais dispositivos IoT que você tem, principalmente daqueles que de alguma forma se comunicam com sua cafeteira. Se os deixar desatualizados eles podem parar de conversar com sua cafeteira, e lá se vai o café prontinho na hora em que você entra na cozinha.

E, no final dos seus dias, a cafeteira vai atingir a Obsolescência ou Declínio. É quando sua cafeteira é apenas um enfeite ou um incômodo. Ainda não está tão velha que possa ser considerada uma relíquia. Está na hora de comprar uma nova. E está na hora de decidir se joga a antiga fora ou se a guarda no sótão para, uns 20 anos mais tarde, ter um valor enorme como relíquia.

Este é o chamado Ciclo de Vida.

Um comentário:

  1. Adorei! George escreve muito bem, gostosa a leitura e real. Abraço! Thelma Troise

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