13 julho 2017

Cadeia de Valor da IoT - Onde nos encaixamos?

A Internet das Coisas é um conjunto de esforços, envolvendo vários players, cada um desenvolvendo um pedaço da solução e focando no seu mercado. No estágio atual (2017) os principais players ainda estão se dedicando a criar padrões e desenvolver tecnologias que possam dar à IoT um formato mais padronizado e aceito por todos. Mas, em breve, talvez em cinco anos, estes esforços terão dado resultado e teremos os padrões e as tecnologias amadurecidas e prontas para que a IoT as use da melhor forma possível.

Consideremos, então, que já demos este pulo e que a IoT esteja pronta para uso generalizado.

Neste ponto, passamos a ter um novo cenário de players (podendo até ser as mesmas empresas) executando novos papéis  na cadeia de valor da Internet das Coisas.

Estes players podem ser divididos em seis grandes grupos e vamos analisar aqui quais grupos apresentam oportunidades para as empresas brasileiras.

Estes grupos de players formam uma cadeia de valor bastante definida. O primeiro player nesta cadeia é aquele que se refere aos Componentes Inteligentes. Este grupo é quem desenvolve e fabrica os componentes microeletrônicos necessários para que a Internet das Coisas se torne possível no nível mais básico.

Este grupo inclui os desenvolvedores e fabricantes de sensores, chips de comunicação e outros componentes que permitirão dar aos “Objetos” a capacidade de interagir com o mundo externo e de comunicar suas informações aos demais “Objetos” e às plataformas de tratamento de dados. Em geral eles acompanham de perto os grupos de desenvolvimento de novas tecnologias voltadas à IoT, que buscam sempre minimizar consumo e maximizar capacidade de comunicação.

Este grupo responsável pelos Componentes Inteligentes inclui empresas como a Intel, a Qualcomm e a ZigBee Alliance. O sucesso destas empresas está em desenvolver estes componentes de alta complexidade, fabricá-los em larga escala e oferecê-los a baixo custo.

Dificilmente uma empresa brasileira terá sucesso neste elo da cadeia de valor. Posso até imaginar algum nicho específico entre os possíveis sensores, mas se não tiver o fôlego para fabricação no exterior e comercialização internacional não vejo como ser bem sucedido.

O segundo elo da cadeia de valor da Internet das Coisas se refere aos Objetos Inteligentes. Aqui incluímos os dispositivos inteligentes, medidores, wearables, e eletrodomésticos conectados. São estes os “consumidores” do elo anterior, utilizando os componentes inteligentes em seus produtos, possibilitando que eles façam parte da cadeia IoT. Estes objetos podem ter funções primárias específicas, como máquinas de lavar, geladeiras ou TV´s, ou podem ser dedicadas à IoT, como sensores de luminosidade, de temperatura ou de umidade.

Estes objetos serão autônomos, ou seja, terão em si todas as ferramentas necessárias para cumprir suas funções primárias e também oferecer valor agregado através de sua conectividade ao mundo IoT.

As empresas multinacionais se destacam neste grupo, como a Samsung, a Bosch e a Apple. Aqui há um bom potencial para empresas brasileiras, principalmente se focarem em nichos de mercado como Casas Inteligentes, comércio varejista, otimização do uso de recursos e outras aplicações onde ter um conhecimento da realidade brasileira ou necessitar de um certo grau de personalização são diferenciais importantes.

Já vemos muitas startups utilizando os componentes inteligentes em seus produtos e desenvolvendo soluções bastante inovadoras. O importante aqui é não tentar concorrer com os produtos de consumo em massa, como geladeiras e similares, posto que este mercado deve ficar nas mãos das grandes empresas multinacionais.

O terceiro elo da cadeia é a Conectividade. Aqui estamos falando principalmente de redes de comunicação. Não incluímos aqui as redes locais, cujo objetivo é conectar os objetos inteligentes dentro de um determinado espaço físico, posto que elas estão no grupo dos Componentes Inteligentes. Aqui nos referimos às redes globais que visam conectar os objetos à nuvem. Estas incluem a Internet em suas várias formas, as redes celulares e as novas redes que vem sendo desenvolvidas baseadas nas duas anteriores.

As principais empresas do grupo são as prestadoras de serviço como a Telefonica, a AT&T e a Vodafone, dependendo em qual parte do mundo estejamos.

Se bem que a ocupação territorial para este tipo de serviço já esteja bem definida quando falamos de cobertura por redes celulares, as oportunidades estão abertas para o uso das novas tecnologias com coberturas específicas.

Como exemplo, temos as novas redes baseadas em 4G, com consumo mínimo de energia, que se mostram muito adequadas para a comunicação IoT em determinadas áreas. O caso mais usual é na agricultura, onde uma grande quantidade de sensores é distribuída pelas plantações e suas informações coletadas através de antenas dedicadas, instaladas por empresas que não são as operadoras das redes celulares.

Aqui temos um mercado interessante para empresas brasileiras que possam fornecer o serviço de coleta de dados de forma dedicada, tendo ainda a possiblidade de ser uma fornecedora de Objetos Inteligentes, desenvolvendo conjuntos sensores específicos para determinada aplicação.

O quarto elo da cadeia de valor é o elo Plataforma. Aqui estamos falando da infraestrutura de hardware e software disponível para receber os dados dos objetos inteligentes através das opções de conectividade.

As empresas que tem se preparado para oferecer este tipo de serviço já são antigas no mercado e já possuíam plataformas na Nuvem; elas precisaram apenas adaptá-las às novas condições e novos volumes de dados da Internet das Coisas. Entre estas empresas podemos destacar a Amazon, a Cisco e a Microsoft.

Temos visto algumas empresas brasileiras investirem em criar suas pseudo-plataformas, como forma de acelerar sua entrada no mercado e se destacando dos demais concorrentes. Na realidade, estas empresas estão usando as plataformas oferecidas pelas grandes empresas, apenas personalizadas para sua oferta ao mercado. Com o avanço da utilização da IoT, esta vantagem mercadológica deixará de existir, pois todos terão que oferecer serviços na Nuvem e utilizarão as grandes como suas plataformas.

As empresas brasileiras devem investir neste tipo de solução, ou seja, personalizar suas plataformas utilizando as infraestruturas oferecidas por terceiros, de forma similar ao que ocorreu no mundo do email, onde empresas locais oferecem caixas postais que na realidade estão hospedadas em servidores de terceiros como a Microsoft ou a Google.

Com este comportamento de contratar uma plataforma e personalizá-la, estas empresas começam a invadir o próximo elo da cadeia de valor: a Camada de Customização. É neste elo que a oferta ao cliente final começa a tomar forma. Aqui se definem as formas de interação com os resultados obtidos, aqui que é feito o gerenciamento dos dados depois deles terem sido analisados pelas ferramentas da plataforma. É aqui que começamos a usar as ferramentas de inteligência artificial e outras formas de agregar funcionalidades.

Aqui destacamos empresas como a Accenture e Ericsson e vemos muitas oportunidades para as empresas nacionais pois envolve basicamente mão-de-obra especializada em software.

O último elo desta cadeia na minha visão tem uma posição indefinida, podendo aparecer em qualquer lugar na sequência. É o elo da Aplicação. É aqui que nasce o motivo para se desenvolver uma solução IoT.

As empresas que estão atuando neste grupo focam em pensar fora dos limites normais de aplicação dos dados para se imaginarem com todas as informações possíveis do mundo e criarem usos não antes imaginados.

Este elo pode aparecer no final da cadeia, quando as empresas se aproveitam da coleta e transmissão de dados já feitas por terceiros para desenvolver novas aplicações, podendo oferecer serviços e usos adicionais, seja diretamente a estas empresas, ou aos clientes finais em nome delas.

Mas a ideia da aplicação pode aparecer meio que do nada, e o interesse nela pode dar início a desenvolvimentos nos outros elos, principalmente os dois primeiros, criando novos sensores e novos objetos.

E assim completamos a cadeia de valor da Internet das Coisas:


             
Entre os seis elos da cadeia de valor da IoT vemos que as empresas brasileiras têm várias oportunidades de serem bem sucedidas, principalmente nos processos que não envolvam altos investimentos nem fabricação em massa de elementos tecnológicos. O sucesso estará em quatro grandes frentes:
  • ·       Desenvolvimento de objetos inteligentes focados em necessidades específicas de alguns nichos de mercado, onde produtos “internacionais” podem não ser tão adequados. De imediato podemos pensar na agricultura e agropecuária, no sistema bancário e no mercado varejista.
  • ·       Personalização de plataformas, trabalhando de perto com as grandes empresas e contribuindo com mão-de-obra e expertise.
  • ·       Desenvolvimento das Camadas de Personalização para terceiros.
  • ·       Desenvolvimento de Aplicações utilizando a riqueza de dados da Internet das Coisas. Aqui, a criação poderá ser da empresa brasileira ou ela poderá atuar como executora de ideias de criadores não diretamente relacionados e capacitados para o desenvolvimento.

Fica patente que a maioria das oportunidades para empresas brasileiras na Internet das Coisas está ligada à capacitação dos seus recursos humanos em atividades não diretamente relacionadas com produtos e fabricação.


E se analisarmos mais a fundo o que vem a ser a Internet das Coisas, é justamente nestas áreas que não haverá a concorrência quase desleal da capacidade de fabricação em massa dos países asiáticos, e é justamente nestas áreas que há a possibilidade de se destacar no mercado e de facilmente se internacionalizar.

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