A Internet
das Coisas é um conjunto de esforços, envolvendo vários players, cada um
desenvolvendo um pedaço da solução e focando no seu mercado. No estágio atual
(2017) os principais players ainda estão se dedicando a criar padrões e desenvolver
tecnologias que possam dar à IoT um
formato mais padronizado e aceito por todos. Mas, em breve, talvez em cinco
anos, estes esforços terão dado resultado e teremos os padrões e as tecnologias
amadurecidas e prontas para que a IoT
as use da melhor forma possível.
Consideremos, então, que já demos este pulo
e que a IoT esteja pronta para uso
generalizado.
Neste ponto, passamos a ter um novo cenário
de players (podendo até ser as mesmas empresas) executando novos papéis na cadeia de valor da Internet das Coisas.
Estes players podem ser divididos em seis
grandes grupos e vamos analisar aqui quais grupos apresentam oportunidades para
as empresas brasileiras.
Estes
grupos de players formam uma cadeia de valor bastante definida. O primeiro
player nesta cadeia é aquele que se refere aos Componentes Inteligentes. Este grupo é quem desenvolve e fabrica os
componentes microeletrônicos necessários para que a Internet das Coisas se torne possível no nível mais básico.
Este grupo inclui os desenvolvedores e
fabricantes de sensores, chips de comunicação e outros componentes que permitirão
dar aos “Objetos” a capacidade de interagir com o mundo externo e de comunicar
suas informações aos demais “Objetos” e às plataformas de tratamento de dados. Em
geral eles acompanham de perto os grupos de desenvolvimento de novas
tecnologias voltadas à IoT, que
buscam sempre minimizar consumo e maximizar capacidade de comunicação.
Este grupo responsável pelos Componentes Inteligentes inclui
empresas como a Intel, a Qualcomm e a ZigBee Alliance. O sucesso destas
empresas está em desenvolver estes componentes de alta complexidade,
fabricá-los em larga escala e oferecê-los a baixo custo.
Dificilmente uma empresa brasileira terá
sucesso neste elo da cadeia de valor. Posso até imaginar algum nicho específico
entre os possíveis sensores, mas se não tiver o fôlego para fabricação no
exterior e comercialização internacional não vejo como ser bem sucedido.
O segundo
elo da cadeia de valor da Internet das
Coisas se refere aos Objetos
Inteligentes. Aqui incluímos os dispositivos inteligentes, medidores,
wearables, e eletrodomésticos conectados. São estes os “consumidores” do elo
anterior, utilizando os componentes inteligentes em seus produtos,
possibilitando que eles façam parte da cadeia IoT. Estes objetos podem ter funções primárias específicas, como
máquinas de lavar, geladeiras ou TV´s, ou podem ser dedicadas à IoT, como sensores de luminosidade, de
temperatura ou de umidade.
Estes objetos serão autônomos, ou seja, terão
em si todas as ferramentas necessárias para cumprir suas funções primárias e também
oferecer valor agregado através de sua conectividade ao mundo IoT.
As empresas multinacionais se destacam
neste grupo, como a Samsung, a Bosch e a Apple. Aqui há um bom potencial para
empresas brasileiras, principalmente se focarem em nichos de mercado como Casas
Inteligentes, comércio varejista, otimização do uso de recursos e outras
aplicações onde ter um conhecimento da realidade brasileira ou necessitar de um
certo grau de personalização são diferenciais importantes.
Já vemos muitas startups utilizando os
componentes inteligentes em seus produtos e desenvolvendo soluções bastante
inovadoras. O importante aqui é não tentar concorrer com os produtos de consumo
em massa, como geladeiras e similares, posto que este mercado deve ficar nas mãos
das grandes empresas multinacionais.
O terceiro
elo da cadeia é a Conectividade. Aqui
estamos falando principalmente de redes de comunicação. Não incluímos aqui as redes
locais, cujo objetivo é conectar os objetos inteligentes dentro de um
determinado espaço físico, posto que elas estão no grupo dos Componentes Inteligentes.
Aqui nos referimos às redes globais que visam conectar os objetos à nuvem. Estas
incluem a Internet em suas várias formas, as redes celulares e as novas redes
que vem sendo desenvolvidas baseadas nas duas anteriores.
As principais empresas do grupo são as
prestadoras de serviço como a Telefonica, a AT&T e a Vodafone, dependendo
em qual parte do mundo estejamos.
Se bem que a ocupação territorial para este
tipo de serviço já esteja bem definida quando falamos de cobertura por redes
celulares, as oportunidades estão abertas para o uso das novas tecnologias com
coberturas específicas.
Como exemplo, temos as novas redes baseadas
em 4G, com consumo mínimo de energia, que se mostram muito adequadas para a
comunicação IoT em determinadas
áreas. O caso mais usual é na agricultura, onde uma grande quantidade de
sensores é distribuída pelas plantações e suas informações coletadas através de
antenas dedicadas, instaladas por empresas que não são as operadoras das redes
celulares.
Aqui temos um mercado interessante para
empresas brasileiras que possam fornecer o serviço de coleta de dados de forma
dedicada, tendo ainda a possiblidade de ser uma fornecedora de Objetos
Inteligentes, desenvolvendo conjuntos sensores específicos para determinada aplicação.
O quarto
elo da cadeia de valor é o elo Plataforma.
Aqui estamos falando da infraestrutura de hardware e software disponível para
receber os dados dos objetos inteligentes através das opções de conectividade.
As empresas que tem se preparado para oferecer
este tipo de serviço já são antigas no mercado e já possuíam plataformas na
Nuvem; elas precisaram apenas adaptá-las às novas condições e novos volumes de
dados da Internet das Coisas. Entre estas
empresas podemos destacar a Amazon, a Cisco e a Microsoft.
Temos visto algumas empresas brasileiras
investirem em criar suas pseudo-plataformas, como forma de acelerar sua entrada
no mercado e se destacando dos demais concorrentes. Na realidade, estas empresas
estão usando as plataformas oferecidas pelas grandes empresas, apenas
personalizadas para sua oferta ao mercado. Com o avanço da utilização da IoT, esta vantagem mercadológica
deixará de existir, pois todos terão que oferecer serviços na Nuvem e utilizarão
as grandes como suas plataformas.
As empresas brasileiras devem investir
neste tipo de solução, ou seja, personalizar suas plataformas utilizando as
infraestruturas oferecidas por terceiros, de forma similar ao que ocorreu no
mundo do email, onde empresas locais oferecem caixas postais que na realidade estão
hospedadas em servidores de terceiros como a Microsoft ou a Google.
Com este
comportamento de contratar uma plataforma e personalizá-la, estas empresas começam
a invadir o próximo elo da cadeia de valor: a Camada de Customização. É neste elo que a oferta ao cliente final
começa a tomar forma. Aqui se definem as formas de interação com os resultados
obtidos, aqui que é feito o gerenciamento dos dados depois deles terem sido
analisados pelas ferramentas da plataforma. É aqui que começamos a usar as ferramentas
de inteligência artificial e outras formas de agregar funcionalidades.
Aqui destacamos empresas como a Accenture e
Ericsson e vemos muitas oportunidades para as empresas nacionais pois envolve
basicamente mão-de-obra especializada em software.
O último elo desta cadeia na minha visão tem uma posição indefinida,
podendo aparecer em qualquer lugar na sequência. É o elo da Aplicação. É aqui que nasce o motivo
para se desenvolver uma solução IoT.
As empresas que estão atuando neste grupo
focam em pensar fora dos limites normais de aplicação dos dados para se
imaginarem com todas as informações possíveis do mundo e criarem usos não antes
imaginados.
Este elo pode aparecer no final da cadeia, quando
as empresas se aproveitam da coleta e transmissão de dados já feitas por terceiros
para desenvolver novas aplicações, podendo oferecer serviços e usos adicionais,
seja diretamente a estas empresas, ou aos clientes finais em nome delas.
Mas a ideia da aplicação pode aparecer meio
que do nada, e o interesse nela pode dar início a desenvolvimentos nos outros
elos, principalmente os dois primeiros, criando novos sensores e novos objetos.
E assim completamos a cadeia de valor da Internet das Coisas:
Entre os seis elos da cadeia de valor da IoT vemos que as empresas brasileiras
têm várias oportunidades de serem bem sucedidas, principalmente nos processos
que não envolvam altos investimentos nem fabricação em massa de elementos
tecnológicos. O sucesso estará em quatro grandes frentes:
- · Desenvolvimento de objetos inteligentes focados em necessidades específicas de alguns nichos de mercado, onde produtos “internacionais” podem não ser tão adequados. De imediato podemos pensar na agricultura e agropecuária, no sistema bancário e no mercado varejista.
- · Personalização de plataformas, trabalhando de perto com as grandes empresas e contribuindo com mão-de-obra e expertise.
- · Desenvolvimento das Camadas de Personalização para terceiros.
- · Desenvolvimento de Aplicações utilizando a riqueza de dados da Internet das Coisas. Aqui, a criação poderá ser da empresa brasileira ou ela poderá atuar como executora de ideias de criadores não diretamente relacionados e capacitados para o desenvolvimento.
Fica patente que a maioria das oportunidades
para empresas brasileiras na Internet
das Coisas está ligada à capacitação dos seus recursos humanos em atividades
não diretamente relacionadas com produtos e fabricação.
E se analisarmos mais a fundo o que vem a
ser a Internet das Coisas, é
justamente nestas áreas que não haverá a concorrência quase desleal da capacidade
de fabricação em massa dos países asiáticos, e é justamente nestas áreas que há
a possibilidade de se destacar no mercado e de facilmente se internacionalizar.
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